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sábado, 6 de agosto de 2011

O elixir do esquecimento

A lua cheia, anormalmente grande, iluminava o bar através da vidraça dando ao espaço um aspecto surreal, que uns pontos de luz estrategicamente colocados no interior acentuavam.
Estava sentado ao balcão, um copo na mão com uma bebida, talvez uísque, pelo formato do copo, mas poderia ser outra qualquer, não interessava, era levado à boca com um gesto pausado e quase mecânico, ligeiramente curvado centrava a atenção no copo, o semblante aparentava tristeza ou desilusão, melhor dizendo era a fusão de ambos os sentimentos.

Levantou o rosto e fixou o olhar num casal que numa mesa fronteira falava entre si, apenas via o movimento dos lábios, mas também se expressavam através de gestos quase dramáticos que davam mais ênfase ao que quer que diziam, ficou a refletir, porquê estariam tão tensos? Estariam a discutir sobre algo não chegando a um acordo sobre o que quer que fosse? Discutiriam a sua relação? Talvez um deles se tivesse cansado dessa relação? Estaria insatisfeito? Quereria pôr-lhe fim ? Talvez o amor que um dia existiu se tivesse perdido pelo caminho, e já não fosse possível reavê-lo?

Um sorriso irónico aflorou-lhe os lábios, estava para ali a imaginar o que poderia levar esse casal a ter esse comportamento e por momentos esqueceu-se de si, da angustia que o oprimia e dilacerava. Que raio! Porque carga d'agua estava para ali a imaginar esses porquês? A sua vida já lhe dava amargos de boca suficientes para quê preocupar com a vida dos outros? A dele já por si era um caos, uma guerra, não uma batalha, perdida, não conseguia visualizar solução de modo a deter o seu desmoronar.

Chamou o barman e pediu outra bebida, talvez outro uísque, queria apenas esquecer, deixar-se levar pela lassidão que lhe ia tomando o corpo e nublando a mente, pediu mais outra, queria lá saber dos dramas dos outros, com esses podia ele bem, queria era esquecer os seus, se o álcool tinha esse poder, se o transportava para outra dimensão, iria beber até passar para lá. A lua cheia, anormalmente grande, derramou sobre ele, ali caído sobre o balcão, uma luminosidade quase surreal . Só quis que a memória se apagasse. Apagou-se a memória e o corpo também, adormeceu de tão ébrio.

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