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domingo, 17 de maio de 2009

Sonhos





Inconfessáveis, irrealizáveis...
mundo obscuro, confuso, escuro...
lama, neblina, poeira... explosão de cometas
estrelas cadentes, ardentes...
estagnação, podridão...
limo, pedras, nascentes, poentes...
Auroras boreais, arco-íris, maresias, fantasias de Arlequim e D. Quixote.
Entrar num espelho, sair num jardim de aromas, especiarias, fragâncias de ópio e jasmim...
Voar, rastejar, alienar, beijar, amar...
Ter poder nas mãos de vida ou morte...
santa, perdoar, exorcizar, pecar, rameira, mártir...

Arder no fogo das paixões, dos desejos carnais, brutais,
chorar num túmulo de alguém, amado ou desconhecido,
medos infundados, ou reais, fantasmas vis que me cercam,
anjos e demónios, princesas e sapos, cavaleiros e reinos
efémeros, perdidos em quimeras e utopias, Atlântidas desconhecidas.

Ir ao Éden e ao Hades, sentir raiva e compaixão,
dispor as peças, perder ou ganhar
caminhar e não chegar, partir e não voltar,
num mar sem leme, num cabo das Tormentas,
no silêncio eterno, das respostas nunca dadas.

Que é de mim?
Onde me encontro?
Tenho de acordar!
Quero voltar!
Perdi-me num sonho.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Um Amigo Especial


Até onde remonta a minha memória, lembro-me que os livros sempre estiveram presentes na minha vida, começaram pelas histórias infantis, os romances cor-de-rosa, aos de aventuras, como por exemplo:"Os cinco", li toda a colecção. Outro género que adorei foi a BD, por exemplo: "Uma Aventura de Astérix, o Gaulês", ainda conservo alguns para recordar, por vezes dá-me a nostalgia. No início da adolescência, teria entre os onze e doze anos, um livro abriu o caminho para a viagem sem retorno, despertou-me os sentidos e deu origem à grande paixão que tenho pela leitura, com o título "Meu Pé de Laranja-Lima" de ´José Mauro de Vasconcelos, escritor brasileiro. Neste livro revi-me em determinados acontecimentos ocorridos na minha infância, maravilhosa, ainda hoje o conservo.
Depois foi um "devorar" contínuo de todas as obras que tive o prazer de aceder, os grandes clássicos universais: "A Paixão de Jane Eyre", de Charlotte Brontê; "Humilhados e Ofendidos"; "O Jogador"; " Os Irmãos Karamazov", de Dostoievsh; "O Vermelho e o Negro" de Sendhal; "Guerra e Paz" de Leo Tolstoi; "E Tudo o Vento Levou" de Margaret Mitchell"; "Náná" de Émile Zola, passando pelos nossos clássicos: "Os Maias"; "A Ilustre Casa dos Ramires"; "A Relíquia"; "O Crime do Padre Amaro" de Eça de Queirós. Também as obras de Júlio Dinis: "A Morgadinha dos Canaviais"; "Uma Família Inglesa"; "Os Fidalgos da Casa Mourisca". De Miguel Torga: "Os Bichos"; "Contos da Montanha", de Camilo Castelo Branco: "Amor de Perdição"; "Retrato de Ricardina"; "A Casa da Malta" de Fernando Namora, fazendo referência a algumas das centenas de obras que já li. Passando aos contemporâneos , alguns brasileiros, entre os quais destaco Jorge Amado, com obras admiráveis e algumas no mínimo deliciosas: "Teresa Batista Cansada da Guerra"; " Gabriela Cravo e Canela";São Jorge dos Ilhéus" e o meu preferido, o primeiro que li deste escritor:"Meninos da Areia". Erico Veríssimo com "Ana Terra", uma história brutal. Outro autor, este moçambicano, Mia Couto, "terra Sonâmbula", Miguel Sousa Tavares, "Equador" e "Rio das Flores" maravilhosos, José Saramago, "Memorial do Convento", "O Ano da Morte de Ricardo Reis", Tiago Rebelo, "Romance em Amesterdão", "O Último Ano em Angola", isto para nomear alguns.
Na literatura estrangeira, Marguerite Yourcenar, "Memórias de Adriano", Jung Chang; "Cisnes Selvagens", Gabriel Garcia Marquez; "O Amor em Tempos de Cólera", Isabel Allende, "A Casa dos espíritos" e tantos mais, tornar-se ia maçador enumerá-los.
Gosto praticamente de todo o género literário, ainda que dê preferência ao romance, leio com prazer biografias: "Queimada Viva"de Souad, autobiografias: "Viagens Contra a Indiferença" de Fernando Nobre, poesia: "Sonetos" de Florbela Espanca", filosofia: "Assim Falava Zaracrusta" de Nietzsche, de viagens: "Sul" de Miguel Sousa Tavares, estes foram usados como referência. Obras científicas e históricas também me despertam interesse.Tenho o privilégio de possuir quase três centenas de obras, algumas, poucas, foram lidas apenas uma vez, a grande maioria foi lida e relida duas ou mais vezes, com interregnos por vezes de dez ou mais anos, resultando dai um aprofundamento da obra. Sou sócia de uma biblioteca, o que me permite aceder, sempre que sinto esse apelo, a outras obras.
Os livros são os meus amigos mais íntimos, os que nunca me desiludem nem traem, aos quais me dou, numa entrega total mas não incondicional, por eles e com eles transfiguro-me e incarno qualquer personagem com que me identifico e vivo experiências e emoções de amor/ódio; guerra/paz; drama/tragédia; desejo/entrega; sexo/sedução; ridículo/cómico; religioso/profano; poder/miséria; mistério/esotérico; tolerância/rejeição, alegria/tristeza, em suma, a amalgama de tudo o que faz aquilo que somos:humanos.
Com eles viajo a qualquer hora, para qualquer lugar do mundo, por mais recôndito que seja, sem fronteiras/barreiras, liberto-me de tabus/preconceitos, por eles e com eles quase sacio a minha ânsia de saber e alargo os horizontes da mente e do espírito. Que mais se pode pedir a um amigo especial?
Quando prescindimos dos seus favores, fica num canto, silencioso, aguardando ser solicitado a dar-nos prazer, a levar-nos seja para onde for, com este amigo nunca estamos sós, só quem tem amigos assim sabe do que falo.