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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Amar, amar para além de...

Sentada na praia deserta,vê, fascinada, a apoteose dramática de vermelhos, laranja, ouro e violetas, que o sol exibe ao afundar-se no profundo azul do mar.
Apercebeu-se que escrevia repetidamente um nome na areia e o recitava mentalmente como um "mantra". Sabe, sempre que isso acontece, que aquele que invoca se torna presente através da visualização, é uma capacidade que aprendeu a usar a partir do dia em que se conheceram.
E quando se conheceram teve a mais estranha percepção que alguma vez teve, conheciam-se, sim conheciam-se sem nunca se terem visto, e no olhar dele havia exatamente a mesma pergunta, mas de onde?
Os olhos interrogavam-se, mas nunca essa interrogação foi expressa em palavras, como se fosse dispensável. Nunca da palavra se fez uso, apenas o silêncio e o olhar, onde ela começou a ler mensagens que não se permitia perceber, inicialmente fugia com o seu, depois timidamente, colocando reservas, deixou-o ir ao encontro do dele.
Sempre teve reservas, até receio desses olhares, quase sempre transmitiam desejo, desejo físico, mas aqueles não, falavam-lhe outra linguagem, não quis arriscar, sair da sua zona de conforto, ir para lá da "zona proibida".
Mas aquele olhar perseguia-a, penetrante, ia até ao âmago, como se a conhecesse intimamente, como se tivessem partilhado algo só deles.
Deixou o coração sobrepor-se à razão, e teve a certeza que era amor, amor antigo, sem tempo nem hora, outra certeza foi que o iriam sentir enquanto caminhantes na vida terrena, e que talvez nunca mais se voltassem a encontrar, nesta encruzilhada o encontro serviu apenas para se reconhecerem. Ela muito mais tarde soube em que outra vida se tinham amado, e que na vida atual nunca mais se iriam ver.
Na memória, e mais ainda na alma, gravados a fogo ficaram os escassos gestos de ternas carícias, fugazes, discretas, um aperto de mão mais demorado e intenso, o acariciar levemente o cabelo dela, a planta florida que lhe colocou nas mãos com tal ternura que a deixou arrepiada, gestos esses  sempre acompanhados pelo olhar que tudo dizia, o gesto mais veemente foi na despedida um leve e tímido roçar dos lábios.
Ela soube, a alma disse-lhe que sim, que se iriam amar para sempre, num tempo paralelo, noutra dimensão, que é difícil de explicar, e de todo inacessível a quem não confia ou não acredita nestas faculdades, por quem não sabe usar se não os sentidos físicos.
Não duvida que é amada como nunca foi por alguém, sempre que visualiza aquele olhar continua a ver esse amor.
Anoiteceu, presa da mais intensa emoção levanta-se e entra no mar, aí deixa que as saudades lhe escorram pelo rosto, para suavemente se fundirem no seu elemento.
Amores assim não se explicam, acontecem, e só a alguns é concedido amar assim.





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