Translate

domingo, 13 de outubro de 2013

Viagem atribulada

 
Fomos a Santiago de Compostela.
Foi uma viagem há muito sonhada, até imaginava faze-la como peregrina, percorrendo um dos caminhos de Santiago. A viagem para lá até correu bem, obstante não ser exatamente como eu a tinha planeado. Tinha em mente chegar ao Porto ao fim da tarde, passear pelas suas ruas, ir até à Ribeira, e depois de jantar seguir viagem até Valença para aí pernoitar. O companheiro decidiu fazer uma direta até Vigo onde chegamos já tarde, o que permitiu apenas um jantar ligeiro e procurar alojamento.
No dia seguinte partimos para Santiago sem dar uma volta por Vigo, já lá tinha ido mas gostava de conhecer melhor a cidade. Enfim, chegamos a Santiago, e, claro, como é da praxe, fomos visitar a catedral, e ai é que as coisas deram para o torto, caso para dizer que o santo não joga no "time" do meu, as coisas complicaram-se, o companheiro, que fez uma direta até Vigo pelas autoestradas, começou a queixar-se de dores lancinantes na mão direita, dor que já se tinha anunciado quando se levantou, procurou-se uma farmácia, compramos paracetamol e um punho elástico, mas as dores eram tão intensas que decidimos fazer a viagem de regresso, ainda voltamos a Vigo, com um breve passeio pela beira mar, e por insistência minha, porque já não havia sossego, fizemos uma direta até Braga, não quis parar em Valença, para recorrer ao serviço de urgências do hospital local.  Um hospital "novinho em folha", ainda com os acessos a partir do centro da cidade por construir, portanto até chegar lá andamos às voltas, ninguém, a quem pedíamos informação, acertava com o acesso correto, penso que alguns sabiam tanto como eu. Chegamos às urgências e foi prontamente atendido, e quase de imediato fez a triagem, aparentemente, segundo a opinião do enfermeiro, a consulta iria demorar um pouco, até aqui tudo bem, é natural haver atendimentos prioritários, são identificados por uma pulseira de cor, que vai do vermelho, ao verde, passando pelo laranja, amarelo, a do companheiro era verde, significando que não é grave e que pode aguardar, mas aqui tudo se complica, passou uma hora, duas horas, três horas, eu já dormia encostada nas costas de uma cadeira, todas as urgências prioritárias eram atendidas, claro que não havia vermelhos, esses entram diretamente para a sala de atendimento, mas os amarelos e os laranjas iam entrando, assim como alguns verdes, que entraram depois do companheiro, e ele continuava a aguardar, passou-se mais uma hora e foi perguntar qual a razão de não ser chamado, resposta: primeiros os casos mais graves, e estavam sempre a entrar amarelos, tinha de esperar. O companheiro decidiu que já não esperava mais, e voltamos para o carro estacionado no parque subterrâneo do hospital e que é pago a 1€ à hora, a partir dos 5€ já não se pagava nada independentemente do tempo que ali ficássemos. Como aquela hora era complicado procurar alojamento decidimos ficar mesmo ali, dormimos dentro do carro até às seis da manhã. Quando nos dirigimos aos serviços para pagar o estacionamento, o companheiro ainda foi perguntar se já o tinham chamado, por curiosidade, e curiosamente foi chamado meia hora antes, como não estava deram-lhe logo alta, se estivesse interessado tinha de fazer nova ficha, quando fez a primeira ficha pagou 20€, teria de pagar novamente outros 20€. Isto é que se chama um negócio da China.
Largamos 25€ para passar metade da noite numa sala de espera de um hospital e a outra metade no estacionamento. Que bela noite, semelhante a um hotel de cinco estrelas. Quanto à dor, passou quase por magia, eu sabia que tinha sido provocada pela esforço excessivo de conduzir, com repouso, o paracetamol e o punho elástico, ela iria desaparecer, mas infelizmente o companheiro é muito teimoso não acreditou em mim, e a viagem que há anos sonhava ficou muito aquém do planeado. Para terminar também tenho de, para ser justa, dizer que, expecto o acontecimento narrado, e algum mau humor do companheiro, houve momentos muito agradáveis.
E ainda digo que ver Braga "nem por um canudo", e que no moderno hospital deveria deixar lá, no livro de reclamações, o agradecimento por este serviço  "diligente e atencioso". Fiquei com a impressão que a ideia que as pessoas do norte do país não gostam dos do sul é verdadeira. Ou será só impressão minha?
 

 

Sem comentários:

Enviar um comentário