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quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Filosofando

Esperava pelo autocarro que me traria de regresso a casa, no Terminal Rodoviário. Foi a meio da tarde, o Verão estava quase a chegar. Muito próximas de mim duas jovens universitárias conversavam, em voz baixa mas não o suficiente que me impedisse de ouvir, falavam sobre um valor que é sem dúvida inquestionável, mas também o será como facto? Falavam na liberdade, na liberdade de agir, de ser responsável pelas as suas acções, de, em suma, serem "donas do seu nariz".
Uma muito liberal, muito atrevida, exuberante, dizia que estava desejosa que as férias começassem, que ia participar de um encontro de BTT, e pelo entusiasmo com que falava era fanática de tal desporto, depois ia quinze dias de férias com o namorado para um parque de campismo, ele infelizmente só tinha quinze dias de férias, iam "curtir à brava", praia, bares, discotecas, dançar até de madrugada e outras "curtes" que eu omito.
A outra, mais apagada, até um pouco triste, dizia que as férias para ela iriam ser uma "seca", ia com os pais para o Algarve para a casa de férias que tinham em Portimão, já sabia que era só praia com a família, grandes jantares, tinha que levar com toda a família, tios, primos e até a avó paterna, pois era hábito juntarem-se sempre nas férias. A única coisa que tinha interesse era um primo, era "cá um pedaço", mas nem pensar em "curtir" com ele, tinha namorada.

A primeira argumentava que era parva se não tentasse, pois se a namorada nem lá estava só tinha era de se "mandar a ele", com certeza que oportunidades não faltariam para "curtirem", ela era gira, e ele passava "fome". Novamente a segunda fazia referência à família, que era impensável, ainda que vontade não lhe faltasse, por uma questão de princípios transmitidos pela educação não tomaria tal atitude.
Durante o percurso tive tempo para reflectir sobre o tema em questão: a liberdade, concluindo que afinal não somos tão livres como pretensamente julgamos. Analisando esta conversa: uma jovem, pela educação, ou pelo facto de ser rebelde e aventureira não tinha, aparentemente, nenhum tipo de determinismo que a impedissem de ir gozar as férias como as idealizou. Para a segunda a educação recebida era um factor condicionante, ainda que no seu intimo gostasse de fazer o mesmo que a amiga, era prisioneira do padrão sociocultural onde se inseria, provavelmente nunca seria capaz de tais liberdades.


"A Liberdade é um conjunto de pequenas restrições ".
Peter Hille

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