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sábado, 26 de dezembro de 2009

O Nosso Nobel da Literatura (1998)


 
Gosto do José Saramago! Gosto, e pronto.
Será preciso dizer mais?
Talvez não! Ou será?
Pois penso que sim! Ia lá deixar de vos dar esse prazer, esse "gostinho" de saberem o porquê de eu gostar de Saramago! Era impensável! Ah! Ah! Ah! ( não gosto de hi! hi! hi!, não gosto do risinho de hiena, gosto mais da gargalhada).
Sem mais delongas passo a explicar, ou melhor a esmiuçar (gosto mesmo desta palavra), os motivos por esta preferência.
Gosto do seu modo desafiador, provocador, irónico e directo, dos comentários que parecendo ofensivos, ( há muita boa gente que se ofende sim senhor!), são no entanto verdadeiros, e é verdade que a verdade é por vezes dolorosa. Gosto da sua forma peculiar de escrever, do sentido de humor, que se capta nas suas obras, umas vezes sarcástico e cru, outras sofisticado e requintado. Iniciei a leitura das suas obras pela "Jangada de Pedra", o que se diga em abono da verdade, me fez desistir, mas como sou teimosa por natureza, voltei a insistir e lá o li, o pior é que mesmo depois de ver o filme continuei sem perceber muito bem o enredo, ( isto talvez seja porque sou loura).
Mas despertou em mim algo, talvez uma atracção, não é fatal, mas irresistível, foi com o " Memorial do Convento" que me rendi. Seguiram-se "Terra de Pecado", o seu primeiro romance, " O Ano da Morte de Ricardo Reis; " O Evangelho Segundo Jesus Cristo", e por este quase foi excomungado, é um tema inquietante, mexe com valores dados como adquiridos, mas não o incomodou minimamente, visto ser ateu. " O Ensaio sobra a Cegueira" que me levou a ver o filme baseado na obra, ambos me impressionaram, levaram-me a ponderar "as cegueiras" que nos afectam.

O último que li foi "O Homem Duplicado", "que é um dos mais belos romances, uma intriga complexa, conduzida por mão de mestre" fazendo minhas as palavras da editora. (não há qualquer registo pessoal que identifique o comentário).
O seu ultimo comentário foi bombástico, mas (lá está o malfadado mas) o que comentou, embora ofendendo altas estâncias, a Bíblia é mesmo um "manual de maus costumes, um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana". Só quem não leu poderá questionar, está recheada de: fratricídio, violações, perseguições, sentenças de morte, genocídios, guerras, provas cruéis de confiança, traições, adultérios, infanticídio, sacrifícios, se isto não é um manancial de horrores, o que será? E estando sujeita ao julgamento da "inquisição", estou plenamente de acordo com o comentário, é indiferente, já fui condenada a tantas "fogueiras", que estou naquela : "os cães ladram mas a caravana passa".
Segundo o pastor adventista Artur Machado: " a violência relatada é uma consequência dos actos humanos e não de Deus".
 
Na minha memória ficou uma frase de Saramago na obra "O Homem Duplicado" : "autênticos labirintos cretenses que são as relações humanas".


domingo, 20 de dezembro de 2009

Quase anedota

Detesto as tarefas domésticas, excepto cozinhar, adoro, aqui sou mesmo vaidosa, sei fazer umas coisas, mas sou tão exigente comigo, quase perfeccionista, daquelas de endireitar um quadro, apanhar um grão de areia no soalho encerado, de soprar um pelo num vidro, que mesmo contrariada, não suporto ver a minha casa desorganizada, lá me vou sacrificando. Este comentário é a propósito de: sempre que há uma festa cá em casa tenho uma verdadeira obsessão pela limpeza da casa-de-banho, (haverá algum psicólogo para explicar esta mania), têm de estar resplandecente, desinfectada, perfumada, etc.

Para a manter limpa exijo aos membros da família que não a conspurquem, e principalmente não usem as toalhas, mas como isso é "malhar em ferro frio", coloco toalhas limpas apenas no último instante, antes das visitas chegarem.

Sempre que faço isto lembro-me de uma anedota: Uma dona-de-casa organizou uma festa em sua casa, para homenagear o chefe do marido. Fez uma limpeza meticulosa à casa-de-banho, colocando no toalheiro umas maravilhosas toalhas bordadas, e pregou nelas um bilhete, informando que matava o primeiro que lhes tocasse. Os convidados chegaram, a festa decorreu e terminou como tinha planeado, quando todos saíram, foi à casa-de-banho, ficou em estado de choque, o bilhete continuava pregado nas toalhas, sendo fácil de deduzir que nenhum dos convidados as usou. O bilhete era para o agregado familiar, esqueceu-se de o retirar, coitado do marido, que grande vexame.

Eu não sou tanto assim, ainda não faço ameaças de morte, mas tenho vontade de fechar a porta com chave, e só a abrir quando os convidados chegarem, mas é melhor não o fazer, não vá esquecer-me de a abrir ou pior, perder a chave.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

MULHER (deusa) MULTIPLICADA


 

Por vezes sinto necessidade de me isolar, de ficar só, de ir até ao "deserto" para me encontrar, reconhecer-me, e analisar-me, pois disso depende o meu equilíbrio psíquico, algo que eu acho que todos deveríamos de fazer, ainda que hajam muitos que para não se terem de confrontar consigo mesmo procurem estar sempre rodeados de gente. A solidão nesta perspectiva é assustadora, fogem dela a "sete pés", quando ela os obriga a analisarem-se.
A solidão não tem para mim o sentido cognitivo que pretensamente lhe é dado, também é verdade que não a desejo permanentemente, mas como alguém um dia disse: "a solidão deveria ser como beber café: em poucas quantidades e poucas vezes" (com intervalos). É assim que eu bebo café, é assim que eu gosto da solidão. Voltando a falar de nos conhecermos a nós mesmo, já Sócrates dizia: "Conhece-te a ti mesmo", estou plenamente convicta da citação, para mim é o melhor método para conhecermos os outros, actuando como um freio para não os criticarmos tão levianamente e concluirmos que afinal somos todos feitos do mesmo barro, pelo menos a grande maioria, claro que há excepções, aqueles que nos fazem envergonhar de pertencer à raça humana, aqueles que por qualquer desígnio maléfico estão espalhados entre nós.
Comecei a divagar, isto era só para dizer que busco muitas vezes nos livros soluções para as minhas dúvidas, para a minha insegurança e principalmente para a minha ignorância, pois é : "Só sei que nada sei". Um meio a que recorro para me isolar é lendo, nos livros consigo entrar num mundo paralelo àquele do qual faço parte, por momentos não estou lá e existem livros que têm esse mérito.
Faço referência a um deles, que depois de o ler me elucidou ainda mais sobra a minha personalidade: " As Deusas em cada mulher", de Jean Shinoda Bolen, tenho recomendado a sua leitura às amigas, mas também seria gratificante que os homens se interessassem pela sua leitura, iriam conhecer melhor as mulheres, (e bem precisam, ai! ai! coitados!). Depois de o ler conclui que sou uma Perséfone (Gregos) ou Proserpina (Romanos), uma das deusas menos conhecida do Olimpo, uma deusa receptiva, introvertida (mas não muito), sensitiva, intuitiva, apreciadora da imaginação, e psíquica. Isto são alguns traços da minha personalidade, como Perséfone já fui "raptada", já desci ao "inferno", não tive foi um Hermes, (Gregos) ou Mercúrio, (Romanos) para me trazer de volta, tive que regressar sozinha, já senti sofrimento e tristeza imensos, (quase a desistir da vida). Mas tal como ela consegui ultrapassar essa fase com a ajuda de Hécate (deusa das encruzilhadas) e procurar o meu caminho, reunindo em mim todas as deusas, dai a complexidade da minha personalidade, Ah! Ah! Ah! Nem imaginam, nem queiram saber, é demasiado exigente essa analise, deixo muita gente confusa. Reúno em mim quase todas as deusas, pelo facto de me sentir "na pele" de quase todas, parecendo um paradoxo, actualmente convivem muito bem umas com as outras, (às vezes andam um pouco de costas viradas umas para as outras, mas é por pouco tempo), nem imaginam a "trabalhera" que deu, para se entenderem, para estarem todas no mesmo nível, nenhuma é superior à outra. Quando digo que reúno em mim quase todas as deusas, não estou a ter um complexo de superioridade, dá essa impressão, mas não é verdade, até sou moderadamente modesta. Sinto-me Deméter, (Gregos) ou Ceres (Romanos) a mãe, (sem ser possessiva), Hera, (Gregos) ou Juno (Romanos) a esposa, (sem ser ciumenta), e Afrodite, (Gregos) ou Vénus (Romanos) a amante, (sem ser promiscua). Diariamente esses arquétipos são solicitados a mostrarem-se e a manifestarem-se, embora numa escala mais reduzida, pois no Olimpo é sempre no Olimpo, (os deuses até podem estar loucos). Por vezes, quando são solicitadas, há outras deusas que se tornam presentes: Artemis, (Gregos) ou Diana (Romanos), há sempre um tempo para ser "caçadora", há pois é! Por vezes tenho de mostrar que sou livre, (já me libertei dos domínios, sou dona de mim), embora tenha criado laços. Também Atenas, (Gregos) ou Minerva, (Romanos) surge, esta mais vezes, o saber é para mim fundamental.

Vou terminar, comecei por mencionar o isolamento, pois foi numa fase de isolamento, que este livro foi adquirido, permitindo assim fazer a tal introversão e dai resultar um conhecimento mais aprofundado de mim. Há livros que vêm às nossas mãos no momento mais oportuno, este foi um deles. Bem-haja a sua existência.


A Dra. Jean Shinoda Bolen é médica psiquiatra, analista jungiana, professora de psiquiatra na Universidade da Califórnia - São Francisco.


Nota: análise jungiana - análise segundo Jung


sábado, 14 de novembro de 2009

Augusto Casimiro (O senhor capitão)






Ficaram na minha memória vivências do passado, mais propriamente da minha infância, que até hoje me fascinam. Uma dessas vivências remontam à idade de seis anos quando conheci um vulto das letras portuguesas: Augusto Casimiro dos Santos, mais conhecido por Augusto Casimiro. Hoje, já se passaram quarenta e cinco anos, neste preciso momento, essa recordação tornou-se intensa e obsessiva, forçando-me a remexer nesse passado. Os meus pais tiveram de se deslocar da localidade onde residiam, um dia também escreverei sobra estas deslocações, éramos quase nómadas, daí talvez o meu gosto pelas viagens e pela aventura, para um local situado na margem esquerda do Tejo, situado algures entre Almada e a Costa de Caparica, mais precisamente para o Lazarim da Caparica, na altura era um local bastante isolado com acesso difícil. Todas as localidades próximas se chamam de Caparica: Monte da Caparica; Torre da Caparica; Sobreda de Caparica; Charneca de Caparica; Vila Nova de Caparica, isto devido à lenda da "capa rica". Como estava a dizer, deslocaram-se devido ao facto do meu pai ter começado a trabalhar na via rápida para a Costa de Caparica, e a minha mãe querer a família junta. No local onde passamos a morar: Quinta da Morgadinha, que na altura isto em 1964, era o que se poderia considerar um condomínio privado, não como os actuais, que são criados para quem tem dinheiro, o que não era o caso do anterior, este era habitado maioritariamente por gente que fugia de um Alentejo de fome, em busca de trabalho, o que não foi o caso da minha família, mas isso são outras histórias, que oportunamente contarei. Era quase um condomínio privado porque era vedado, e tinha de facto um portão que o isolava, pois inicialmente esse espaço habitacional tinha sido uma quinta agro-pecuária, na qual o proprietário construiu umas moradias, tipo geminadas, com o respectivo quintal, e volto novamente a dizer que fazem parte das histórias acima referidas. Foi aí, nesse local, que conheci Augusto Casimiro, por nós, os moradores, conhecido por "Senhor capitão", isto porque tinha sido capitão no exército. Era um homem alto e imponente, ou será que é a imagem que tenho dele, pois eu era uma criança e foi o que ficou na minha memória, tinha 75 anos. Poucos sabiam o motivo porque vivia ali, a minha mãe, que teve o privilégio de ser a sua empregada doméstica, teve esse conhecimento dito por ele, estava ali porque no passado tinha sido contra o estado-novo e agora contra o governo de Salazar, era portanto antifascista e ali encontrou de certo modo refugio para uma hipotética perseguição. Para mim isso nada significava, anos depois, quando da revolução do 25 de Abril, percebi o que o levou a ir para esse "cu de Judas". Poucos também ali sabiam que era um homem das letras.




Mas as histórias que surgem na mente são aquelas associadas ao seu comportamento como vizinho, essas sim são inesquecíveis.
Tinha em frente da sua moradia um jardim, não era propriamente um jardim, era mais uma rede que vedava a outra quinta, também ela agropecuária, entre as duas passava um caminho que permitia o acesso à segunda. A rede encontrava-se envolvida por trepadeiras e na sua base, o "Senhor capitão", tinha plantado algumas flores, nas tardes de Verão, da janela, com uma mangueira apontada às flores regava-as e em simultâneo dava-nos banho, a mim, ao meu irmão e a todos os "putos" que ali moravam, todos de cuecas a correr e a saltar debaixo da água que jorrava da mangueira. Dias havia que o "Senhor capitão" vinha à rua, em volta dele parecíamos um enxame, ia connosco dar um passeio para o lado de fora do "condomínio", para um espaço lindo, ao qual chamávamos "a nossa praia", isto porque o local era constituído por uma areia muito fina, sendo uma parte quase como um pântano, não sei bem se era isso, a imagem que tenho é de uma superfície húmida, onde havia juncos, e coaxavam rãs e sapos.



As recordações mais marcantes que tenho dele remontam aos almoços de Domingo na sua casa, tinha por hábito convidar as crianças para almoçar com ele, o convite era limitado a duas crianças, um menino e uma menina. Quando era a minha vez almoçava sempre com um amigo, já falecido, o Carlos, mais conhecido por "Mira", o ultimo apelido, para nós era uma festa, a sopa era tão boa, mais tarde, anos depois, soube qual o ingrediente mágico, o "Aji-no-moto", o segundo prato que na nossa casa era raro comer, carne assada, e outras delícias tais, como a sobremesa, que também nas nossas casa só havia pelas festas, mas, há sempre um mas, a verdadeira recordação, talvez se possa chamar "trauma", mas que ficou ultrapassado, era a salada de tomate, que nós detestávamos, então para não a comer eu o o meu amigo inventamos uma estratégia, um tirava o tomate e passava-o ao que ficava mais perto da casa-de-banho, este fechava-o na mão e pedia licença para lá ir, isto repetiu-se durante alguns Domingos, talvez já se tivesse apercebido, íamos tantas vezes lá, mas um Domingo não permitiu e pediu para colocar o que tinha na mão no prato, ora era um pedaço de tomate, deu apenas uma ordem, nenhum se levantava da mesa sem comer a salada, foi remédio santo, comecei a gostar de salada de tomate e o meu amigo também.



Outras recordações vão surgindo, nas tardes de Domingo éramos todos convidados para ver televisão, há pois! Televisão era um objecto quase desconhecido para a maioria de nós, com a agravante de ser muito cara, sendo apenas usufruída pelos que o podiam comprar, o que não era o caso dos nossos pais. Na sala funcionava uma hierarquia, à qual não permitia o mínimo deslize, as crianças mais pequenas, tanto rapazes como raparigas, onde eu me incluía, ficavam sentadas no chão em frente dele, seguiam-se as raparigas mais velhas que se sentavam em cadeiras ao seu lado, por trás dele ficavam os rapazes mais velhos de pé, a televisão ocupava o espaço em frente deste esquema, ficando ele no centro sentado numa cadeira de baloiço. Foi nesta televisão que vi os primeiros filmes de " índios e cowboys" e comecei a apreciar o Professor José Hermano Saraiva a narrar os grandes factos da nossa História, as nossas lendas e tradições.
Recordo-me de o ver a conversar com a minha mãe, também me recordo da minha mãe comentar em casa que o "senhor capitão" lhe tinha pedido para não mexer nos seus papéis, os seus manuscritos e documentos, ali era ele que fazia a limpeza, dizia à minha mãe que era perigoso ela saber alguma coisa que ele escrevia, mas sempre lhe ia dizendo que escrevia livros e poemas.


Tinha eu nove anos quando o "senhor capitão" faleceu, desse acontecimento tenho uma imagem muito pálida, recordo-me da sua nora, a actriz Lurdes Norberto, lá ir e dar autorização à minha mãe para ficar com o que quisesse lá de casa, incluía loiças, roupas de cama e mesa, e até alguns móveis, infelizmente nenhuma das suas obras.
Os anos decorreram sempre a pensar de um dia procurar conhecer as suas obras, mas por diversos motivos, que nem sempre são os mais desculpáveis, nunca o fiz. Agora com a Internet já consegui dedicar um pouco de tempo a pesquisar, tendo a grata satisfação de conhecer um pouco mais da pessoa maravilhosa que fez parte da minha infância. Estou ansiosa para procurar pelas suas obras nas livrarias e quando for possível deslocar-me à BN onde estão todas elas, entregue pelo filho.

sábado, 7 de novembro de 2009

Até um dia


No porto das ilusões
tenho um cais
onde voltaste a acostar.
Frágil batel
refugiado da tempestade
seguro por delicada amarra.
Quando amaina
a ânsia, o desassossego
soltar a amarra, queres partir.
O frágil batel é veleiro de aventura.
O cais torna-se pequeno
para tal envergadura.
Não há despedida, não há tempo.
Até um dia! Até um dia!
Mas um dia, se voltares, talvez
o cais já não exista
ou tenha um letreiro que diz:
"Proibido acostar".


domingo, 1 de novembro de 2009

Lapso

Respondendo a um comentário que me enviaram, tenho, sem margem para dúvidas, de admitir que neste blog onde "faço" literatura (convencida, não sou?) e falo de autores, cometi um lapso, esqueci-me, é imperdoável, de fazer referência a um dos maiores vulto da literatura lusa, Camões, Luís Vaz de Camões. Se foi lido por "obrigação" há uns anos atrás, principalmente os "Lusíadas", não deixou no entanto de ser gratificante a sua leitura, pese embora a complexidade da obra. Camões continua até aos dias de hoje a fazer-nos sentir orgulhosos do país onde nascemos, " esta é a ditosa Pátria minha amada", a cujo povo valeroso "o mar se curva e a terra aclama" e pelo qual os deuses no Olimpo continuam a reunir-se em "Concílio" a fim do auxiliar.
Mas este poeta não nos enriqueceu apenas com a sua obra épica, também como poeta lírico deixou obras maravilhosas, onde expressa os sentimentos e as emoções que a sua vida de homem aventureiro, galante e apaixonado estava repleta. A forma como canta o amor é sublime: "Amor é fogo que arde e não se vê, é ferida que dói e não se sente..." .
Amar assim é a forma mais sofredora, porque não se ama alguém incondicionalmente, queremos sempre a retribuição, mais, exigimos que o outro seja a "alma gémea", o que é pouco provável acontecer.
E mais doloroso é amar quando o amor é platónico, embora sabendo que só um amor assim é eterno, não nos oferece a plenitude, a que se atinge na entrega.
Todo este texto foi apenas expressar sentimentos pelas palavras. Quero confirmar que estou de acordo com as palavras do poeta expressas no comentário, que possa haver mudança, de preferência para mudar o que está mal, mudar para melhor, assim a mudança é sempre bem vinda. Mais não acrescentei ao que sempre foi dito sobre Camões, é apenas uma opinião sem importância.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Depois


No esquife azul
cinzas vogam sem rumo
lançadas por mãos vazias
como pedras nuas, solitárias
no gesto petrificado
do adeus.

Os relógios pararam
no som do silêncio
quando o azul se fez cinza
ou seria o cinza em azul?
Não sei!

Pararam porque partiste
para a outra margem.
Espera por mim!
tenho a moeda para o barqueiro.

Um dia também quero ser cinza
no teu esquife azul
e vogar assim sem rumo.

sábado, 19 de setembro de 2009

Sonho concretizado







































Fiz há uma semana as férias que sempre sonhei. Pessoalmente tinha muitas reservas no tocante à concretização dos sonhos, os meus nunca se tornaram realidade, porque seria? Talvez porque "atrás das grades da vida insistia em ver a lama do chão e esquecia-me de olhar as estrelas no firmamento". Isto foi o que fiz ao longo da minha vida, metafóricamente falando. Esta viagem deu-me a oportunidade de me libertar, quase por magia, de valores poeirentos, bafientos e principalmente azedos e amargos, que me iam envenenando muito lentamente, que me levava à cegueira não permitido ver o que de bom tem a minha vida. Porquê não tornar reais as palavras de Helen Keller: "Porquê contentar-nos em viver colados ao chão, quando sentimos dentro de nós a ânsia e a vontade de voar".
Esta viagem por mar, ao qual eu tenho uma ligação muito especial, sou em astrologia do signo Peixes, num cruzeiro, levou-me a partir de Lisboa, a Gibraltar, Marrocos, (Casablanca, Agadir), Lanzarote, e Funchal. Foram oito magníficos dias a bordo de um magnifico navio, o "Pacific Dream", o nome não poderia ser outro, foi mesmo de sonho. Gibraltar é mesmo "british", mas a diversidade de povos que circulam pelas ruas dá-lhe um certo exotismo. Casablanca desiludiu-me um pouco, talvez porque a via envolvida pela aura romântica do imortal filme com o mesmo nome, enfim não foi mau de todo, ver a mesquita de Hassam II compensou os outros aspectos um pouco menos belos. Os "Bazares" são de perder a cabeça, só apetece comprar, "mergulhar" naquele ambiente saturado de cheiros intensos, perfumes, especiarias e peles, nos sons que nos provocam aturdimento, e nos leva para as "arábias".

Agadir é uma cidade dinâmica, muito ocidental, é geminada com a nossa cidade de Olhão no Algarve. Um jardim tem mesmo o nome de "Jardim de Olhão", e onde está instalada uma biblioteca com o mesmo nome. A Mesquita é lindíssima, as oficinas onde os artesãos trabalham à nossa frente nos mais variados artefactos deixam-nos maravilhados, o único senão é realmente a dificuldade de escolha, nem é que sejam caros, nós é que não temos "dirham" ou euros, que são aceites. Aqui tive oportunidade de me expressar em francês, com cinco anos de aprendizagem à "beaucoup de temps", até pensei que não sabia articular uma frase, mas "je parle un peau, trés mal, mais je parle français, n'est-ce pas, óh! lá, lá". Incrível! conseguia entender-me muito bem com os taxistas, que, "sont beaucoup sympathiques".
Lanzarote, aqui pensei que seria agradável encontrar o José e a Pilar, mas não passou de uma fantasia e a visita que tínhamos para fazer era apelativa, ao finalizar posso dizer que foi gratificante.
No Funchal fiquei deslumbrada pela vegetação, dai o adjectivo " A Madeira é um jardim", até o presidente lhe faz justiça no apelido que usa. Foi uma visita que me proporcionou imagens belíssimas para recordar.
A bordo, um serviço de cinco estrelas, de todo o pessoal, de toda a tripulação desde o comandante ao mais humilde servidor, todos aqueles com quem tive o privilégio de contactar, todos merecem o meu mais sincero agradecimento, pelos serviços prestados, pela amabilidade e simpatia. Já agora, a bordo era mesmo um delírio, espectáculos deslumbrantes, "show exótico", "dança do ventre", musicais de jazz, etc, num magnifico salão; discoteca; bares; ginásio; jacuzzis; piscinas; biblioteca; casino; salas de jogos; cabeleireiro; spa. Ao ar livre no "deck" onde se situam piscinas, "jacuzzis" e bares, havia diariamente diversas actividades, jogos, festas com motes, como por exemplo: festa tropical, feira familiar, etc.

Cheguei ao fim da minha viagem, heis-me novamente a colocar os pés no mesmo cais de onde parti, Lisboa, muito ficou por dizer, mas será mais uma estrela que guardarei, para, quando o meu mundo escurece,cintilar com mais intensidade, e me fazer lembrar que amanhã o sol voltará a brilhar e dissipará a escuridão.






















































































quinta-feira, 17 de setembro de 2009

"No Teu Deserto"

"No Teu Deserto" livro de Miguel Sousa Tavares, que terminei de ler. Atravessou um deserto, atravessou-o fisicamente, foi em trabalho, mas tornou-se aventura, e foi muito mais além do que estava preparado. Como ele próprio o classifica, este livro é "quase romance".
Não teço mais comentários, nem descrevo coisa alguma, assim a quem eventualmente aceder ao meu blog, aconselho a ler como decorre esta aventura e o seu desfecho.
Pegando no título, em jeito de desabafo, de confidência, também em nós fica um grande deserto, depois de alguém que faz parte da nossa vida, por um curto espaço de tempo e por fugazes momentos faz-nos sentir que a vida é maravilhosa, parte, não morrendo necessariamente, deixando um grande vazio que nos passa a habitar, onde se morre à míngua de tanto esperar absurdamente por algo, nem que seja uma miragem.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Filosofando

Esperava pelo autocarro que me traria de regresso a casa, no Terminal Rodoviário. Foi a meio da tarde, o Verão estava quase a chegar. Muito próximas de mim duas jovens universitárias conversavam, em voz baixa mas não o suficiente que me impedisse de ouvir, falavam sobre um valor que é sem dúvida inquestionável, mas também o será como facto? Falavam na liberdade, na liberdade de agir, de ser responsável pelas as suas acções, de, em suma, serem "donas do seu nariz".
Uma muito liberal, muito atrevida, exuberante, dizia que estava desejosa que as férias começassem, que ia participar de um encontro de BTT, e pelo entusiasmo com que falava era fanática de tal desporto, depois ia quinze dias de férias com o namorado para um parque de campismo, ele infelizmente só tinha quinze dias de férias, iam "curtir à brava", praia, bares, discotecas, dançar até de madrugada e outras "curtes" que eu omito.
A outra, mais apagada, até um pouco triste, dizia que as férias para ela iriam ser uma "seca", ia com os pais para o Algarve para a casa de férias que tinham em Portimão, já sabia que era só praia com a família, grandes jantares, tinha que levar com toda a família, tios, primos e até a avó paterna, pois era hábito juntarem-se sempre nas férias. A única coisa que tinha interesse era um primo, era "cá um pedaço", mas nem pensar em "curtir" com ele, tinha namorada.

A primeira argumentava que era parva se não tentasse, pois se a namorada nem lá estava só tinha era de se "mandar a ele", com certeza que oportunidades não faltariam para "curtirem", ela era gira, e ele passava "fome". Novamente a segunda fazia referência à família, que era impensável, ainda que vontade não lhe faltasse, por uma questão de princípios transmitidos pela educação não tomaria tal atitude.
Durante o percurso tive tempo para reflectir sobre o tema em questão: a liberdade, concluindo que afinal não somos tão livres como pretensamente julgamos. Analisando esta conversa: uma jovem, pela educação, ou pelo facto de ser rebelde e aventureira não tinha, aparentemente, nenhum tipo de determinismo que a impedissem de ir gozar as férias como as idealizou. Para a segunda a educação recebida era um factor condicionante, ainda que no seu intimo gostasse de fazer o mesmo que a amiga, era prisioneira do padrão sociocultural onde se inseria, provavelmente nunca seria capaz de tais liberdades.


"A Liberdade é um conjunto de pequenas restrições ".
Peter Hille

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Desilusão



Quando partiu o sol brilhava em todo o seu esplendor, iluminava o país pequenino que deixava junto ao mar, que saudades já tinha do seu Portugal. Levava-o cravado no coração quando partiu para outro país onde iria ganhar para o pão de cada dia e, com um pouco de sorte, também para amealhar, para um dia arriscar voos mais altos. Sozinha partiu para França, não levava mala de cartão, mas a que levava também não lhe ficava atrás, não era mesmo "Louis Viutton". A língua, pouco ou nada sabia, o que aprendeu nos dois anos do ciclo preparatório de pouco ou nada lhe valeram, era uma língua de trapos, não entendia nada.

O trabalho era árduo, colher morangos, pêssegos, maças, deixava-a no fim da jorna de rastos, não havia tempo para mais nada. Quando lhe fizeram esta proposta aceitou, porque entre trabalhar em Portugal como empregada doméstica a ganhar um ordenado insignificante ou colher fruta em França, este último recompensava, ainda que fosse temporário. Apenas falava com os conterrâneos, até o capataz era português, portanto de francês, nicles. Ao fim do segundo contrato o capataz perguntou-lhe se não queria mudar de profissão, e esta com mais classe, tinha uma proposta para lhe fazer: trabalhar como doméstica na casa de um casal francês, precisavam urgentemente de uma para a manutenção da sua moradia. Deu-lhe um dia para pensar, era pegar ou largar, havia mais gente interessada, mas simpatizou com ela e quis dar-lhe a oportunidade. No mesmo dia deu-lhe a resposta, decidiu aceitar, em Portugal apenas deixava a mãe mas esta não precisava dela, era uma mulher ainda autónoma.

Começou a trabalhar numa moradia de luxo, nunca os seus olhos tinham visto tal, competia-lhe fazer as limpezas mais profundas, isto é, falando literalmente, limpar a merda mais difícil, o que exigia mais esforço físico, mas que importava, o ordenado justificava bem o esforço. O casal tinha sido solicito e atencioso, tinham-se deslocado com ela aos locais necessários para tratar de toda a burocracia e formalidades associada à sua permanência no país, que iria ser por tempo indeterminado. Ficou com um minúsculo quarto num anexo ao fundo do jardim, não se importou, ali também estava alojado o jardineiro, homem de trinta e tal anos, já ali estava à dois anos, era português, o Álvaro. Os restantes empregados, uma cozinheira/copeira, a Valérie e uma empregada de quartos, a Mónique, ambas francesas, completavam o pessoal e tinham honras de alojamento na casa principal.
Os patrões já de meia-idade, pouco tempo estavam em casa, viajavam imenso, tinham dois filhos adultos que não viviam com eles, estando portanto a maior parte do tempo a casa por conta dos empregados.

Enviava para à mãe um determinado valor para esta juntar ao seu ordenado, o restante depositava-o numa conta na C.G. D. para um dia, quando voltasse, comprar uma casa. Tinha vinte e um ano, um dia de folga, ao Domingo, e nunca saia daquela casa, falava apenas com o jardineiro quando necessário, este era muito reservado e esquivo, limitava-se, na maioria das vezes, a dizer-lhe um seco bom-dia.

Aprender francês estava a ficar difícil, tentou aproximar-se das empregadas francesas, a cozinheira ignorou-a, a criada de quartos foi mais simpática, esforçava-se para que ela percebesse o que dizia, mas era uma língua confusa, acabavam por rir ambas, esse foi o factor que permitiu que uma boa amizade se estabelecesse entre ambas. Mónique explicava-lhe por mímica, apontando, dizendo e escrevendo numa folha de papel o nome dos objectos, o mais complicado era pronunciar os verbos e aplicá-los, isso por vezes dava aso a momentos hilariantes, quando Marie, era o seu nome em francês, tentava repetir o que Mónique escrevia.

Mas era inteligente (continua a ser) e diligente, quase sem se aperceber formava frases completas e bem pronunciadas. Percebia o que a cozinheira dizia quando em voz alta reclamava, atarefada, na cozinha, e mais tarde os palavrões que ouvia vindos do quarto da dita, situado no rés-do-chão. Uma noite, o sono recusava aparecer, veio para o jardim, e andou por lá às voltas para ver se o convencia, quando ouviu passos apressados, estava oculta atrás de uma sebe, que se dirigiam para uma janela que estava aberta, que sabia ser a do quarto da cozinheira e um homem num salto entrou por ela. Riu-se, o português, o jardineiro tirava a "barriga da miséria" com a franciú e em simultâneo "limpava-lhe a chaminé", nessa noite e em outras que passeava no jardim, ouvia nitidamente os sons de deboche e entendia perfeitamente os palavrões, que, diga-se a verdade, ditos em francês até soam bem, oh! l'amour. Isto tudo se passava na ausência dos patrões, nesses dias naquela casa só se fazia o básico, a cozinheira dormia grandes sestas, porque a noite era para a farra. Marie e Mónique aproveitavam para ir até à vila, que distava uns cinco quilómetros, para passear, fazer compras e talvez arranjar um namorado, eram ambas muito bonitas, Marie, sabia eu, Monique, porque Marie quando me escrevia o dizia. Dois anos depois comprou uma bicicleta, com a finalidade de estudar na vila, à noite, se bem o pensou, melhor o fez, o conhecimento que tinha da língua permitia-lhe até a um certo ponto dominar as matérias, depois logo se veria, mas estava confiante , o seu anjo, o anjo de Portugal haveria de a ajudar. Durante cinco anos dedicou-se ao máximo, noites sem dormir para poder estudar, porque muitas vezes era impossível fazê-lo de dia, nunca chumbou, quando terminou concorreu para um escritório na vila, era de uma empresa de exportações, conseguiu o lugar. Foi lá que o conheceu, italiano, charmoso, sedutor e muito bonito, era motorista de longo curso. Quase de imediato os piropos, elogios, galanteios, e todo o arsenal que os homens sabem usar, quando pretendem alcançar os seus objectivos, sabemos muito bem quais são, começaram a subir-lhe à cabeça, deu por si perdidamente apaixonada pelo Salvatore. Aquela língua era doce como o mel, feiticeira, atraia-a, começou a fraquejar e como sonâmbula deixou-se cair na armadilha. Pois foi, cumpriu-se um ritual que existe desde Adão e Eva. Como bons latinos legalizaram a união, casaram pelo civil, Marie ainda vivia a lua-de-mel e já ele a sacaneava, com muita arte e talento, levou-a a passar as poupanças para uma conta comum, que ia lapidando muito metodicamente. Quando ela lhe pedia explicações tinha sempre argumentos que ela não conseguia debaldar: pagamentos na oficina, pois o carro estava sempre a necessitar de manutenção, aliás, andava a pensar trocá-lo, aquele só lhe dava chatices; porque precisava de comprar roupas de marca, porque, enfim, gostava de se vestir bem, ela deveria orgulhar-se dele, tomara muitas, dizia ele, ter um marido assim , "bonno e molto bello" e que a amava muito.
Um dia toda a poupança tão arduamente alcançada, para a sonhada casa em Portugal, foi-se, levantou-a, nem "una moneta" lhe deixou, "o figlio di una gran putana". Marie entrou em desespero, teria voltado para Itália? Mas para onde? Sabia que era da Calábria, mas de onde? Nem se recordava do nome da terra, foi ver na certidão de casamento mas pensou que ele, logicamente, não iria para lá, pois ela iria lá procurá-lo. No escritório tentou obter informações, sem denunciar a sua situação, teve uma surpresa, tinha-se despedido, tinha-o feito, com aviso prévio, ela não sabia?

Dois anos depois Marie voltou a Portugal, no dia em que chegou nem viu o sol radioso que a saudava, nem sentiu o mar que tanto amava, a mãe tinha falecido, apenas veio tratar do funeral e regressou. Continuava casada com um italiano a quem desejava a morte, se fosse possível, ser ela a proporcionar-lhe esse encontro. O dinheiro que ia poupando não o depositava no banco nem o investia, não fosse o "merdas" lhe ter acesso. Entretanto tentou anular o casamento, ainda bem que não casou pela igreja, a Santa Madre Igreja, Católica, Apostólica, Romana, nunca lhe faria tal caridade. Conseguiu, pois afinal estava casada com um fantasma. Nunca mais regressou a Portugal. Os relacionamentos amorosos limitam-se a encontros ocasionais, beber uns "copos" e muito sexo, no dia seguinte nem sabia de onde os conhecia, que desaparecessem! Diz que enquanto tiver juízo mais nenhum "figlio di una gran putana" fará parte da sua vida, teve a sua dose. A sua frase favorita para descrever os homens: "os homens são como as fraldas descartáveis, usam-se e deitam-se fora", é na sua opinião uma citação filosófica, e lamenta que não passe a fazer parte dos manuais de filosofia, ainda que não se saiba quem é a grande filósofa da actualidade que a citou pela primeira vez e se criou mais pensamentos com tanta lógica.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Recomeço

Temos de falar!
O tom de voz decidido, firme, imperativo, alarmou-o, nunca tinha falado assim, sempre que lhe ouvia esse pedido o tom de voz era humilde, quase choroso. Detestava, ficava irritado quando vinha com "falinhas mansas" fazer cobrança: onde ia? Com quem ia? Se chegava tarde? Se não vinha jantar? Porra! Estava sempre a pedir explicações, sabemos, é do conhecimento comum, que os homens perante esta frase, "temos de falar" ficam com nervoso miudinho, odeiam, quando as mulheres com quem mantém relacionamentos: mãe; esposa; namorada; amante, os "encostam à parede", quando se atrevem a pedir explicações, quando querem falar de sentimentos e de emoções e principalmente quando pensam que estão a ser julgados e criticados. Ela fazia-o quase diariamente, "que seca", estava a fartar-se, apenas queria sair à noite, beber uns "copos" com as amizades, ver "gajas bué da boas", qual o mal, tinha de admitir que já tinha "pulado a cerca" mas era homem! Qual o problema? Tinha direito a divertir-se e depois os "casos" não eram nada de sério, apenas umas "curtes" na noite, outras iam por vezes um pouco mais longe, mas terminavam assim que elas lhe "chateavam os cornos".


Ficava confundido, alinhavam na brincadeira, nunca lhes prometia nada, porque razão depois de umas "quecas", julgavam-se no direito de lhe colocar "trela". Isso era também aplicado à legitima, se não gostava que lhe "desamparasse a loja", que fosse "pregar para outra freguesia", mas era só "conversa fiada", se a mulher tivesse alguma vez a ousadia de o abandonar rachava-a de alto a baixo, dava-lhe um enxerto, que nunca mais se endireitava, nenhuma mulher lhe dava com os pés e ela não era excepção. Dava-lhe tudo, trabalhava que nem um "cão danado", comprou-lhe uma casa, deixou-a mobilar segundo os gostos dela, o que é que queria mais? Um dia concordou, "deixou-a" ir trabalhar, a ideia inicialmente não lhe agradou, mas depois ficou satisfeito por deixar, ela até deixou de o "atazanar" e cumpria as obrigações que competem a qualquer esposa sem reclamar.


"Deixa-la" trabalhar naquele "parte time", ou lá como é que isso se chama, foi mesmo uma boa decisão, há dois meses que não lhe ouvia pio, nunca mais ouviu a choradeira porque ficava sozinha em casa, nem reclamações quando entrava em casa com "bezanas" de "caixão à cova", nem se lastimava quando alguma "puta de merda" das amigas lhe contava que ele andava com "sicrana ou com beltrana". Achou que tinha trabalhado o visual, estava mais bonita, mais magra, até os novos trapinhos lhe ficavam "a matar", até começava a ter um "fraquinho" por ela! Deixava-a ficar com o ordenado, assim podia ir ao cabeleireiro, à manicure, e até àquela "modernice" onde faziam massagens, ela também já lhe tinha dito que ia a um ginásio à tarde, três vezes por semana, ia-lhe fazer bem, à cabeça e ao corpo, estando ocupada não o chateava. Fez-lhe apenas uma advertência: para onde quer que fosse: cabeleireiro, massagista, e no ginásio o "profissional trener", ou coisa parecida, fossem mulheres, nunca se sabia, era melhor jogar pelo seguro.


Naquela manhã levantou-se quase sóbrio e a cabra aproveitou para lhe dizer que queria o divórcio, divórcio? A ele nenhuma cabra pedia o divórcio, com a breca! Pregou-lhe uma estampilha que a fez cair desamparada no chão da cozinha. Divórcio! mas que raio! divórcio para quê? Não estava satisfeita, trabalhava, ele até tinha deixado, ficava com o ordenado, tinha amigas, que na sua opinião era todas umas cabras convencidas e arrogantes, mas eram amigas dela, que se lixassem. Nem teve um "grilinho falante" para lhe dizer que se esquecia quase da sua existência, via-a realmente, mas como dona-de-casa, a esposa que esperava por ele, quando regressava das "ramboiadas", a mulher, a fêmea é mais correcto, ele esqueceu, muitas noites a deixou sozinha, chegava de madrugada, outras vezes a noite já ia a meio, estava tão bêbado que nada nele funcionava, nem se apercebia que ela se levantava e ia para outro quarto.
Agora queria o divórcio? Porquê? Naquele cérebro, danificado pelo álcool, fez-se luz, será que o anda a encornar? Tinha de lhe dizer na cara! Um jorro de obscenidades saia-lhe da boca, assim como ameaças de morte, quando a encontrasse dava-lhe "cabo do canastro". Entretanto ela saiu rapidamente de casa, pegando na saída uma mala que antecipadamente tinha feito. Ficou possuído, nenhuma filha da puta o deixava, foi ao quarto convencido que a iria encontrar a carpir as mágoas, mas não estava, também não se encontrava em qualquer outra divisão. Procurou-a por todos os locais onde possivelmente se poderia acoitar, mas nada, nem sombra. Tentou saber junto das amigas, mas estas nem lhe davam conversa, não sabiam de nada , diziam elas, cabras!


Recebeu através de uma notificação o pedido de divórcio, não lhe iria dar tal prazer, se pensava em ficar com uma parte dos bens, tirasse dai a ideia, tirasse "o cavalinho da chuva"! Não levava dali nem um "tusto", punha fogo à casa, depois queria lá saber, que fosse para o raio que a partisse! Foi convocado por um advogado, até tinha advogado, estava cheia de "guito", a merdosa. Decorreram uns meses sempre a negar-lhe o divórcio, havia de cá vir pedir "batatinhas", pensava ele, cada vez bebia mais, havia dias que nem saia de casa tal o estado de prostração , estava num beco sem saída, o chefe já o tinha avisado que um dia deste ia para o olho da rua. Que puta de vida, aquela cabra havia de lhe pagar bem caro, abandoná-lo, a ele que nenhuma mulher virava as costas, quem é que ela se julgava, quando a apanhasse a jeito fazia-a em merda. O álcool dominava-o, era a sua melhor companhia, já bebia sozinho, as amizades esqueceram-no, às mulheres causava repugnância e afastavam-se indignadas com as propostas.
Morreu num acidente de viação, como peão, uma noite ao voltar para casa, com uma "cadela", saiu de repente do passeio e foi colhido por um carro que circulava a alta velocidade, foi projectado para o passeio oposto.
Ela soube pelo advogado que era viúva, friamente pensou que foi melhor assim, acabava-se aquela guerra fria, que a qualquer momento poderia levar a confrontos. Voltou para tratar das formalidades, ainda era casada com ele, para a família dele, apenas tinha um irmão, cunhada e um sobrinho, nem se dignou olhar, saiu do cemitério de cabeça erguida antes do corpo descer à terra.
Conheceu-o aproximadamente há dois anos, entrou na sua vida e abriu-lhe as portas da felicidade. Quando se conheceram foi o sentido de humor que os aproximou, ele fazia-a rir e ela descobriu que tinha essa mesma capacidade, fazer rir. Foram partilhando gostos comuns, indo à descoberta fascinante das respectivas personalidades, depois a sedução entrou em jogo e os corpos atraíram-se como ímanes, ele descobriu um vulcão, ela descobriu um mago. Sumiram-se os dois no mundo, durante uns tempos soube para onde, foram para muito longe, depois perdi-lhes o rasto. Espero que o vulcão não se tenha extinto, ou o mago não se reformasse. Que sejam felizes.














































domingo, 9 de agosto de 2009

O Segredo



- Vou contar-te um segredo!
-Sim , é para ti que falo!
- Não acreditas que quero contar-te um segredo? Se calhar pensas que estou a falar do livro de Margarida Rebelo Pinto, é claro que já o li, se queres saber é um livro de histórias fascinantes, mas não é dele que te quero falar, quero é contar-te um segredo, que guardo há muito tempo, e é só meu. Quando o contar passa a ser teu também, assim ajudas-me a aliviar o enorme peso que me oprime o coração, não queres?
- Fiz-te rir? Pois olha, quando o contar talvez ainda te rias mais. Pois é! É que sou um pouco convencida, vê lá que me convenci que tinha de te contar um segredo, e que tu o irias guardar como se fosse um tesouro raríssimo, tão raro que só tu o poderás possuir.
- Não! Não te conto, sem que me prometas que o vais guardar, até o podes esquecer, não tem importância, até será melhor que o esqueças, assim não terei a preocupação que possa ser divulgado.
- Pronto está bem! Vou contar-te! Espera! Sabes, ainda estou indecisa, será que posso confiar em ti? É que ao contar-te este segredo ele deixa de imediato de o ser, e se tu não estás preparado para o que te vou contar? E se o vais contar a este, ao outro e a toda a gente?
- Agora deixaste-me numa encruzilhada! Se te conto o segredo ficas a saber que fazes parte dele, se não te conto como o poderás saber? Que dilema!
- Olha, tomei a decisão de não te contar, melhor, vou fazer-te uma proposta, queres? Brincar às adivinhas, se adivinhares, o segredo será desvendado, se não, paciência, não te conto mesmo.
- Vamos lá! O mês de Novembro diz-te alguma coisa, traz algumas recordações à tua memória?
- Mau! Para de rir! Está bem, também sei que é Outono, os dias são mais frios, começa a apetecer hibernar, que há castanhas e vinho pelo S. Martinho. Ah! É verdade é o teu mês, pois é, és Escorpião, hiiiiiiiiiii... espera ! Não precisas de ficar abespinhado. Já vi que não adivinhaste! Não acredito! Não sabes mesmo, bolas, que frustração, não digo mais nada.
- Não! não há mais adivinhas! para de gozar comigo, estou a ficar magoada e irritada com a tua atitude, parece que estás nas tintas para o meu segredo.
-Estou enganada! Estás a dizer que sabes o meu segredo! Sabes como? Ainda não te contei!
- Dizes que não preciso de o contar, pois o meu segredo é teu também.
-Espera lá, como é que sabes? Porque o dizes com tanta certeza?
E muito, mesmo muito baixinho, em segredo, não vá alguém escutar, dizes que há mensagens, sinais, que só o coração escuta e sabe interpretar, e os nossos interpretaram a mensagem, os sinais, em uníssono e em simultâneo em Novembro.
- Que alivio! Terminaram as dúvidas .Ainda bem que sabias, assim já não foi preciso contar-te. Diz-me apenas se vai continuar a ser o nosso segredo? Vai, não vai? Vamos deixar as coisas como estavam, mas não como eram, concordas?
- Para! Já estás a rir outra vez! Que falta de sensibilidade. Ora esta! só tu para me fazeres rir, inacreditável! não existes mesmo!

domingo, 2 de agosto de 2009

Histórias de desencantar

Viveu sempre na "Terra do Nunca", foi sempre uma "Wendy", mas os homens que amou nenhum foi o "Peter Pan". Possuiu sempre uma fantástica, maravilhosa mas estúpida e prejudicial capacidade de se iludir, de construir castelos no ar, de sonhar acordada, de acreditar nos outros, de se entregar sem reservas.

Os príncipes que na vida beijou afinal não passavam de "sapos", o único que talvez fosse mesmo príncipe não correu atrás dela depois do baile acabado, não encontrou ou não quis encontrar o "sapatinho" que lhe dava a oportunidade de conhecer a "gata borralheira" que um dia viu princesa. As histórias foram-se desenrolando, as que a faziam chorar e eram quase todas, ela embrulhava-as num véu de silêncio e enterravas algures numa caverna, que existia dentro dela, que não era propriamente a do "Ali Babá", pois essa tinha tesouros, a dela tinha dores. Continuava a não querer encarar a realidade e insistia em procurar a felicidade nos que viam nela apenas um objecto de desejo. Convencia-se que um dia um príncipe iria surgir num cavalo branco e a levaria para um reino onde iria ser feliz para sempre, iria ser a "Bela Adormecida" que acordava quando ele a beijasse.

Quis ser a "Xerazade" para inventar mil e uma histórias para atrair o tal, aquele que seria o amor da sua vida, aquele que vivia nos seus sonhos, ele não a escutava, vivia noutra dimensão. Depois de tantas desilusões a realidade impôs-se, afinal havia muitos mais "Lobos Maus" que príncipes, a tristeza começou a atormentá-la e deixou de acreditar no amor, esforçou-se até ao limiar das suas forças para ser objectiva, não voltaria a procurar "o pote no fim do arco-íris". Construiu uma nova "persona" e começou a usar a "máscara" do cinismo, passou a ser crítica, irónica e mordaz. Mas representar todos os dias um papel que a violentava, no palco onde se movimentava, acabou por se tornar trágico.

Havia uma voz a segredar-lhe, a chamá-la, como as sereias chamam os marinheiros, atraindo-os para o abismo, talvez fosse a de um delfim e seguiu-a, deixou que a levasse para aquele mundo de mistério que tanto a atraia . Ali acabariam as suas dores, repousaria nos braços de um deus, talvez "Neptuno" a aguardasse para a levar ao baile. Entregou-se para não voltar. Mas o destino é cruel, trocou-lhe os planos, o último amante rejeitou-a, expulsou-a do seu leito, dias depois o seu corpo sem vida foi encontrado numa praia.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

conservada pelo crómio


    Numa noite, no local de trabalho, quando ao passar pelo espaço de convívio e lazer, ouvi, pelo facto de falarem bastante alto, duas idosas a tecerem comentários sobra a morte e sobre os conhecidos que já tinham morrido, era um rol infindável, falando inclusive da sua própria morte, faziam planos para o último acontecimento da suas vidas, o que naturalmente não iria tardar, devido ao facto de ambas serem muito idosas. Às tantas uma diz que quer ser enterrada na sua terra natal, voltar para o seu cantinho, que era bastante longe, para junto dos seus que lá deixou. A outro escandalizada, diz que enterrada nem pensar, muito decidida e convicta, diz que quer ser cromada, cromada é a melhor solução, acaba-se tudo, já tinha dito à família e obrigou-a a jurar que lhe faziam a última vontade. Rindo interiormente, afastei-me com discrição, então não querem lá ver, a velhota queria ser cromada, para quem afirmava que com a cromagem acabava-se tudo afinal planeava ficar inoxidável e resistente à corrosão. Que grande cromo.

terça-feira, 21 de julho de 2009

A Voz do Coração


Quando procurava um nome que me identificasse no blog, estava longe de saber que o que escolhi me identificava, se não na totalidade, pelo menos aproximadamente. Foi uma escolha transcendente, feita não só pelo conhecimento, pela razão, mas principalmente foi uma escolha da emoção, do coração e essas são as mais poderosas "razões" que contam nas escolhas que faço na vida, por vezes, falando com lógica, erro, mas enfim, "o coração tem razões que a própria Razão desconhece".
Escolhi "flor de lótus" por diversos motivos: bela, feminina, e resistente, (a flor), eu! bela? Feminina? Isso sou sem dúvida, muito feminina! Resistente? Sim! A vida não me tem poupado, mas resisto.
Entretanto como a curiosidade foi espicaçada, quis aprofundar o conhecimento, pesquisei e surpreendentemente soube que é uma planta simbólica: "Nalini" nome sânscrito para flor de lótus, simboliza no hinduísmo a espiritualidade, identifica-se com o chakra coronário, simboliza a pureza, que pode emergir das mais difíceis e obscuras circunstâncias; a riqueza e a abundância; a serenidade.
Também procuro alcançar esses valores, quando o faço implica procurar o verdadeiro significado, ou seja quando se faz referência à pureza é a pureza de espírito e também do corpo (o corpo é um templo), a riqueza e abundância, serão de bons valores e a serenidade, aquela que permite aceitar os confrontos, a adversidade, e os maus momentos.
Deixarei aos outros os juízos de valor, pois ainda estou no "caminho", esforçando-me para, sem pretender ser "Iluminada", ser um ser que faça da harmonia e da paz as suas "mais valias" e as possa levar aos outros.

Falar de mim

Sou mulher de paixões, sem a paixão para me motivar, incentivar e levar-me a agir, tudo o que faço perde o encanto e passa a ser uma rotina monótona, tediosa, estupidificante, condicionante. Isto para dizer que outra das minhas paixões é a escrita, escrever é um refugio, mais concretamente uma terapia, a "scriptaterapia", a que recorro para me "curar", quando escrevo liberto-me e deixo fluir tudo o que me vai na alma.

Retrocedendo no tempo, sempre usei a escrita como forma de comunicar, deste modo torna-se mais fácil dar-me a conhecer, pessoalmente sou reservada, até um pouco tímida, para usar o dom da oralidade, embora goste muito de conversar num círculo muito, mas mesmo muito, restrito. Falar de mim não é fácil, tenho tendência a guardar, a manter no "segredo dos deuses", quem sou realmente, dou poucas oportunidades de penetrarem nesse secretismo e são raríssimos aqueles a quem permito.

Escrevi diários, tudo ali era "despejado", sempre que terminava uma página inconscientemente selecionava o que escrevia; o que me magoava, feria, injustiçava, todo o negativismo que me assombrava, deixava no papel, ficavam ali como "lixo", para eventualmente ser "reciclado", isto é, para me servirem de lição quando confrontada com as mesmas adversidades. O oposto, tudo o que de bom a vida me proporcionava, alegria, amor, amizade, e aqui tenho dificuldade de diferenciar a amizade do amor, pois não deixa de ser uma forma de amar, amo os meus amigos, "abençoados os que amam", todos esses valores guardo-os no coração e na mente de forma a que possa recorrer quando fraquejo, quando hesito, quando perco o rumo.

Depois, como tenho uma imaginação fértil, ousei arriscar a ir mais longe, expressando-a na prosa (conto) e na poesia, embora os guarde religiosamente, ainda é pouca a coragem, a ousadia para os trazer para a "luz do dia", estou a fazer omissões, afinal através deste meio, é impressionaste como sou monopolizada por ele, já me iniciei com alguns textos e poemas, partilhando, outra palavra linda, e desvendando um pouco de mim.

domingo, 12 de julho de 2009

Valores

Gosto do silêncio! Aquele silêncio imprescindível para poder viajar em mim, é um modo de viajar a que recorro amiúde para me encontrar e levar-me à descoberta de mim mesma. Sempre que deixo o silêncio em mim morar, até há uma frase linda: "Deixa o silêncio em ti morar e saberás que Deus está contigo", que exprime toda a profundidade da palavra, surpreendo-me com o que descubro, afinal tudo começa em nós! Como diz Pitágoras: " O Silêncio é a primeira pedra do templo da sabedoria".


Em silêncio vamos pacientemente colocando "pedras", para construir "degraus" que nos levam em busca da perfeição, que deveria ser o objectivo final do ser humano. Os "degraus" que obrigatoriamente temos de construir e subir, alguns com esforço extremo, sempre a tentar, as melhores vitórias são as que se alcançam depois de uma boa luta, são: amor, paz, perdão e alegria, muitos mais "degraus" há, mas para mim estes são fundamentais, sem eles fico sem apoio na ascensão pretendida.


O amor não poderá ter medidas, como diz Santo Agostinho: "A medida do amor é amar sem medida", com ele construímos o maior e mais sólido degrau, que será a base e estabilizará todos os outros. Depois colocamos outras "pedras" para construir o "degrau" da paz, e aqui : "Estar em paz consigo mesmo, é o meio mais seguro para estar em paz com os outros", Frei Luís de León.


Mais outro dificílimo, as pedras aqui têm arestas cortantes, aguçadas, custam a carregar, ferem-nos deliberadamente, torna-se necessário trabalhar essas "pedras" para com elas construir o "degrau" do perdão, "Que é uma palavra insignificante mas contém dentro as sementes do milagre", Alejandro Casona. É realmente milagre, posso testemunhar o quanto perdoar nos permite deixar de sofrer no corpo e na alma, pois o rancor, o ressentimento, a raiva, etc., são venenos altamente corrosivos e só nos afectam a nós.


Não esquecemos de construir o "degrau" da alegria, sem ela torna-se mais difícil avançar, fazendo uso dela a caminhada torna-se mais leve, mais destemida, e encoraja-nos a ir mais além, citando Martinho Lutero; "O riso é a minha espada e a alegria o meu escudo".


Alcançar a perfeição parece aparente e supostamente um objectivo fracassado, mas partindo do principio que somos imperfeitos, mal de quem se julgue perfeito, que importa se nunca a alcançaremos, o verdadeiro mérito está no sacrifício, na coragem, na perseverança, no esforço diário de percorrer o caminho, ainda que possamos tropeçar, cair e até por vezes regredir, colocando bem os "pés" nos "degraus", ou seja fazer uso deles, pois não se desgastam, têm validade eterna, são biológicos e podem ser usados por toda a espécie e variedade humana.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Democracia e Secretismo


O Dr. Osvald Le Winter transmite ao mundo "uma enorme quantidade de informações provocadoras". Estou a fazer

uso das suas palavras, no livro que aponta o sistema político mais popular do mundo, a Democracia, como sendo um sistema de antíteses.


O autor faz referência mais precisamente à democracia "à americana", devido ao facto de, se garante determinados princípios, também oculta muitas medidas e decisões ao seu povo, e nem a pretensa nobreza de se impor ao resto do mundo, àquele que realmente lhe interessa, a deixa isenta de culpas. Faz perguntas incómodas: Quem lucrou com o pânico do antahrax? Por que razão são os EUA o maior supermercado do mundo de armas biológicas? Quem lucra com o assassinato dos Direitos Civis no Ocidente? Como funciona e o que faz o tribunal mais secreto da América? Como actua a arma mais secreta da América, DEW - Arma de Energia Direccionada? Qual o interesse real da guerra da América com o Islão? Como e porquê os média foram manipulados na guerra contra o Afeganistão? Como o secretismo está a minar os pilares da democracia? E tantas outra que nos fazem reflectir sobre essa dita "democracia".

Todos sabemos que sendo a democracia um sistema idealizado pelo Homem não é de modo nenhum perfeito, mas de todos os que conhecemos é o que mais se aproxima, e neste livro os EUA são desmascarados, não são tão democratas, como apregoam, e estão longe dos ideais que fundamentam a Democracia, embora nas suas raízes a escravatura fosse "aceitável", actualmente é vergonhosa e ultrajante, ora os EUA pretendem "escravizar" o mundo com as suas mentiras, manipulações e atentados.

Devido a uma alegada fraude numa operação conjunta da CIA, FBI, e M-6 o autor é julgado e condenado a quatro anos de prisão. Após a libertação exila-se em Portugal e tem a coragem e a ousadia de fazer perguntas, denunciar e dar respostas, que por sua vez nos leva a fazer as nossas próprias perguntas: Porquê e para quê? Quem sairá vencedor?
Voltando a citar o autor: " A liberdade depende do conhecimento. Secretismo é inimigo do conhecimento e, portanto, o inimigo da liberdade".



Outro político descreve na perfeição o que é a política :
"A política é a segunda profissão mais velha do mundo, e já me apercebi que é muito semelhante à primeira"
Ronald Reagan Ex presidente dos EUA

domingo, 7 de junho de 2009

Saudade


                                                                
                                  Vive em mim esta saudade
                                  que deixaste como inquilina
                                  Roubaste-me a liberdade
                                  carrego como uma sina.

                                  Dentro de mim, em meu peito
                                  a saudade dói bem forte
                                  Terá fim um dia, num leito
                                  não e amor mas de morte.

                                  Nem na morte terá fim
                                  seguir-me-á para onde for
                                  Ficou como estigma em mim
                                  marcaste-me com esta dor.

                                                     

domingo, 17 de maio de 2009

Sonhos





Inconfessáveis, irrealizáveis...
mundo obscuro, confuso, escuro...
lama, neblina, poeira... explosão de cometas
estrelas cadentes, ardentes...
estagnação, podridão...
limo, pedras, nascentes, poentes...
Auroras boreais, arco-íris, maresias, fantasias de Arlequim e D. Quixote.
Entrar num espelho, sair num jardim de aromas, especiarias, fragâncias de ópio e jasmim...
Voar, rastejar, alienar, beijar, amar...
Ter poder nas mãos de vida ou morte...
santa, perdoar, exorcizar, pecar, rameira, mártir...

Arder no fogo das paixões, dos desejos carnais, brutais,
chorar num túmulo de alguém, amado ou desconhecido,
medos infundados, ou reais, fantasmas vis que me cercam,
anjos e demónios, princesas e sapos, cavaleiros e reinos
efémeros, perdidos em quimeras e utopias, Atlântidas desconhecidas.

Ir ao Éden e ao Hades, sentir raiva e compaixão,
dispor as peças, perder ou ganhar
caminhar e não chegar, partir e não voltar,
num mar sem leme, num cabo das Tormentas,
no silêncio eterno, das respostas nunca dadas.

Que é de mim?
Onde me encontro?
Tenho de acordar!
Quero voltar!
Perdi-me num sonho.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Um Amigo Especial


Até onde remonta a minha memória, lembro-me que os livros sempre estiveram presentes na minha vida, começaram pelas histórias infantis, os romances cor-de-rosa, aos de aventuras, como por exemplo:"Os cinco", li toda a colecção. Outro género que adorei foi a BD, por exemplo: "Uma Aventura de Astérix, o Gaulês", ainda conservo alguns para recordar, por vezes dá-me a nostalgia. No início da adolescência, teria entre os onze e doze anos, um livro abriu o caminho para a viagem sem retorno, despertou-me os sentidos e deu origem à grande paixão que tenho pela leitura, com o título "Meu Pé de Laranja-Lima" de ´José Mauro de Vasconcelos, escritor brasileiro. Neste livro revi-me em determinados acontecimentos ocorridos na minha infância, maravilhosa, ainda hoje o conservo.
Depois foi um "devorar" contínuo de todas as obras que tive o prazer de aceder, os grandes clássicos universais: "A Paixão de Jane Eyre", de Charlotte Brontê; "Humilhados e Ofendidos"; "O Jogador"; " Os Irmãos Karamazov", de Dostoievsh; "O Vermelho e o Negro" de Sendhal; "Guerra e Paz" de Leo Tolstoi; "E Tudo o Vento Levou" de Margaret Mitchell"; "Náná" de Émile Zola, passando pelos nossos clássicos: "Os Maias"; "A Ilustre Casa dos Ramires"; "A Relíquia"; "O Crime do Padre Amaro" de Eça de Queirós. Também as obras de Júlio Dinis: "A Morgadinha dos Canaviais"; "Uma Família Inglesa"; "Os Fidalgos da Casa Mourisca". De Miguel Torga: "Os Bichos"; "Contos da Montanha", de Camilo Castelo Branco: "Amor de Perdição"; "Retrato de Ricardina"; "A Casa da Malta" de Fernando Namora, fazendo referência a algumas das centenas de obras que já li. Passando aos contemporâneos , alguns brasileiros, entre os quais destaco Jorge Amado, com obras admiráveis e algumas no mínimo deliciosas: "Teresa Batista Cansada da Guerra"; " Gabriela Cravo e Canela";São Jorge dos Ilhéus" e o meu preferido, o primeiro que li deste escritor:"Meninos da Areia". Erico Veríssimo com "Ana Terra", uma história brutal. Outro autor, este moçambicano, Mia Couto, "terra Sonâmbula", Miguel Sousa Tavares, "Equador" e "Rio das Flores" maravilhosos, José Saramago, "Memorial do Convento", "O Ano da Morte de Ricardo Reis", Tiago Rebelo, "Romance em Amesterdão", "O Último Ano em Angola", isto para nomear alguns.
Na literatura estrangeira, Marguerite Yourcenar, "Memórias de Adriano", Jung Chang; "Cisnes Selvagens", Gabriel Garcia Marquez; "O Amor em Tempos de Cólera", Isabel Allende, "A Casa dos espíritos" e tantos mais, tornar-se ia maçador enumerá-los.
Gosto praticamente de todo o género literário, ainda que dê preferência ao romance, leio com prazer biografias: "Queimada Viva"de Souad, autobiografias: "Viagens Contra a Indiferença" de Fernando Nobre, poesia: "Sonetos" de Florbela Espanca", filosofia: "Assim Falava Zaracrusta" de Nietzsche, de viagens: "Sul" de Miguel Sousa Tavares, estes foram usados como referência. Obras científicas e históricas também me despertam interesse.Tenho o privilégio de possuir quase três centenas de obras, algumas, poucas, foram lidas apenas uma vez, a grande maioria foi lida e relida duas ou mais vezes, com interregnos por vezes de dez ou mais anos, resultando dai um aprofundamento da obra. Sou sócia de uma biblioteca, o que me permite aceder, sempre que sinto esse apelo, a outras obras.
Os livros são os meus amigos mais íntimos, os que nunca me desiludem nem traem, aos quais me dou, numa entrega total mas não incondicional, por eles e com eles transfiguro-me e incarno qualquer personagem com que me identifico e vivo experiências e emoções de amor/ódio; guerra/paz; drama/tragédia; desejo/entrega; sexo/sedução; ridículo/cómico; religioso/profano; poder/miséria; mistério/esotérico; tolerância/rejeição, alegria/tristeza, em suma, a amalgama de tudo o que faz aquilo que somos:humanos.
Com eles viajo a qualquer hora, para qualquer lugar do mundo, por mais recôndito que seja, sem fronteiras/barreiras, liberto-me de tabus/preconceitos, por eles e com eles quase sacio a minha ânsia de saber e alargo os horizontes da mente e do espírito. Que mais se pode pedir a um amigo especial?
Quando prescindimos dos seus favores, fica num canto, silencioso, aguardando ser solicitado a dar-nos prazer, a levar-nos seja para onde for, com este amigo nunca estamos sós, só quem tem amigos assim sabe do que falo.