Viveu sempre na "Terra do Nunca", foi sempre uma "Wendy", mas os homens que amou nenhum foi o "Peter Pan". Possuiu sempre uma fantástica, maravilhosa mas estúpida e prejudicial capacidade de se iludir, de construir castelos no ar, de sonhar acordada, de acreditar nos outros, de se entregar sem reservas.
Os príncipes que na vida beijou afinal não passavam de "sapos", o único que talvez fosse mesmo príncipe não correu atrás dela depois do baile acabado, não encontrou ou não quis encontrar o "sapatinho" que lhe dava a oportunidade de conhecer a "gata borralheira" que um dia viu princesa. As histórias foram-se desenrolando, as que a faziam chorar e eram quase todas, ela embrulhava-as num véu de silêncio e enterravas algures numa caverna, que existia dentro dela, que não era propriamente a do "Ali Babá", pois essa tinha tesouros, a dela tinha dores. Continuava a não querer encarar a realidade e insistia em procurar a felicidade nos que viam nela apenas um objecto de desejo. Convencia-se que um dia um príncipe iria surgir num cavalo branco e a levaria para um reino onde iria ser feliz para sempre, iria ser a "Bela Adormecida" que acordava quando ele a beijasse.
Quis ser a "Xerazade" para inventar mil e uma histórias para atrair o tal, aquele que seria o amor da sua vida, aquele que vivia nos seus sonhos, ele não a escutava, vivia noutra dimensão. Depois de tantas desilusões a realidade impôs-se, afinal havia muitos mais "Lobos Maus" que príncipes, a tristeza começou a atormentá-la e deixou de acreditar no amor, esforçou-se até ao limiar das suas forças para ser objectiva, não voltaria a procurar "o pote no fim do arco-íris". Construiu uma nova "persona" e começou a usar a "máscara" do cinismo, passou a ser crítica, irónica e mordaz. Mas representar todos os dias um papel que a violentava, no palco onde se movimentava, acabou por se tornar trágico.
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