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sexta-feira, 27 de novembro de 2009

MULHER (deusa) MULTIPLICADA


 

Por vezes sinto necessidade de me isolar, de ficar só, de ir até ao "deserto" para me encontrar, reconhecer-me, e analisar-me, pois disso depende o meu equilíbrio psíquico, algo que eu acho que todos deveríamos de fazer, ainda que hajam muitos que para não se terem de confrontar consigo mesmo procurem estar sempre rodeados de gente. A solidão nesta perspectiva é assustadora, fogem dela a "sete pés", quando ela os obriga a analisarem-se.
A solidão não tem para mim o sentido cognitivo que pretensamente lhe é dado, também é verdade que não a desejo permanentemente, mas como alguém um dia disse: "a solidão deveria ser como beber café: em poucas quantidades e poucas vezes" (com intervalos). É assim que eu bebo café, é assim que eu gosto da solidão. Voltando a falar de nos conhecermos a nós mesmo, já Sócrates dizia: "Conhece-te a ti mesmo", estou plenamente convicta da citação, para mim é o melhor método para conhecermos os outros, actuando como um freio para não os criticarmos tão levianamente e concluirmos que afinal somos todos feitos do mesmo barro, pelo menos a grande maioria, claro que há excepções, aqueles que nos fazem envergonhar de pertencer à raça humana, aqueles que por qualquer desígnio maléfico estão espalhados entre nós.
Comecei a divagar, isto era só para dizer que busco muitas vezes nos livros soluções para as minhas dúvidas, para a minha insegurança e principalmente para a minha ignorância, pois é : "Só sei que nada sei". Um meio a que recorro para me isolar é lendo, nos livros consigo entrar num mundo paralelo àquele do qual faço parte, por momentos não estou lá e existem livros que têm esse mérito.
Faço referência a um deles, que depois de o ler me elucidou ainda mais sobra a minha personalidade: " As Deusas em cada mulher", de Jean Shinoda Bolen, tenho recomendado a sua leitura às amigas, mas também seria gratificante que os homens se interessassem pela sua leitura, iriam conhecer melhor as mulheres, (e bem precisam, ai! ai! coitados!). Depois de o ler conclui que sou uma Perséfone (Gregos) ou Proserpina (Romanos), uma das deusas menos conhecida do Olimpo, uma deusa receptiva, introvertida (mas não muito), sensitiva, intuitiva, apreciadora da imaginação, e psíquica. Isto são alguns traços da minha personalidade, como Perséfone já fui "raptada", já desci ao "inferno", não tive foi um Hermes, (Gregos) ou Mercúrio, (Romanos) para me trazer de volta, tive que regressar sozinha, já senti sofrimento e tristeza imensos, (quase a desistir da vida). Mas tal como ela consegui ultrapassar essa fase com a ajuda de Hécate (deusa das encruzilhadas) e procurar o meu caminho, reunindo em mim todas as deusas, dai a complexidade da minha personalidade, Ah! Ah! Ah! Nem imaginam, nem queiram saber, é demasiado exigente essa analise, deixo muita gente confusa. Reúno em mim quase todas as deusas, pelo facto de me sentir "na pele" de quase todas, parecendo um paradoxo, actualmente convivem muito bem umas com as outras, (às vezes andam um pouco de costas viradas umas para as outras, mas é por pouco tempo), nem imaginam a "trabalhera" que deu, para se entenderem, para estarem todas no mesmo nível, nenhuma é superior à outra. Quando digo que reúno em mim quase todas as deusas, não estou a ter um complexo de superioridade, dá essa impressão, mas não é verdade, até sou moderadamente modesta. Sinto-me Deméter, (Gregos) ou Ceres (Romanos) a mãe, (sem ser possessiva), Hera, (Gregos) ou Juno (Romanos) a esposa, (sem ser ciumenta), e Afrodite, (Gregos) ou Vénus (Romanos) a amante, (sem ser promiscua). Diariamente esses arquétipos são solicitados a mostrarem-se e a manifestarem-se, embora numa escala mais reduzida, pois no Olimpo é sempre no Olimpo, (os deuses até podem estar loucos). Por vezes, quando são solicitadas, há outras deusas que se tornam presentes: Artemis, (Gregos) ou Diana (Romanos), há sempre um tempo para ser "caçadora", há pois é! Por vezes tenho de mostrar que sou livre, (já me libertei dos domínios, sou dona de mim), embora tenha criado laços. Também Atenas, (Gregos) ou Minerva, (Romanos) surge, esta mais vezes, o saber é para mim fundamental.

Vou terminar, comecei por mencionar o isolamento, pois foi numa fase de isolamento, que este livro foi adquirido, permitindo assim fazer a tal introversão e dai resultar um conhecimento mais aprofundado de mim. Há livros que vêm às nossas mãos no momento mais oportuno, este foi um deles. Bem-haja a sua existência.


A Dra. Jean Shinoda Bolen é médica psiquiatra, analista jungiana, professora de psiquiatra na Universidade da Califórnia - São Francisco.


Nota: análise jungiana - análise segundo Jung


sábado, 14 de novembro de 2009

Augusto Casimiro (O senhor capitão)






Ficaram na minha memória vivências do passado, mais propriamente da minha infância, que até hoje me fascinam. Uma dessas vivências remontam à idade de seis anos quando conheci um vulto das letras portuguesas: Augusto Casimiro dos Santos, mais conhecido por Augusto Casimiro. Hoje, já se passaram quarenta e cinco anos, neste preciso momento, essa recordação tornou-se intensa e obsessiva, forçando-me a remexer nesse passado. Os meus pais tiveram de se deslocar da localidade onde residiam, um dia também escreverei sobra estas deslocações, éramos quase nómadas, daí talvez o meu gosto pelas viagens e pela aventura, para um local situado na margem esquerda do Tejo, situado algures entre Almada e a Costa de Caparica, mais precisamente para o Lazarim da Caparica, na altura era um local bastante isolado com acesso difícil. Todas as localidades próximas se chamam de Caparica: Monte da Caparica; Torre da Caparica; Sobreda de Caparica; Charneca de Caparica; Vila Nova de Caparica, isto devido à lenda da "capa rica". Como estava a dizer, deslocaram-se devido ao facto do meu pai ter começado a trabalhar na via rápida para a Costa de Caparica, e a minha mãe querer a família junta. No local onde passamos a morar: Quinta da Morgadinha, que na altura isto em 1964, era o que se poderia considerar um condomínio privado, não como os actuais, que são criados para quem tem dinheiro, o que não era o caso do anterior, este era habitado maioritariamente por gente que fugia de um Alentejo de fome, em busca de trabalho, o que não foi o caso da minha família, mas isso são outras histórias, que oportunamente contarei. Era quase um condomínio privado porque era vedado, e tinha de facto um portão que o isolava, pois inicialmente esse espaço habitacional tinha sido uma quinta agro-pecuária, na qual o proprietário construiu umas moradias, tipo geminadas, com o respectivo quintal, e volto novamente a dizer que fazem parte das histórias acima referidas. Foi aí, nesse local, que conheci Augusto Casimiro, por nós, os moradores, conhecido por "Senhor capitão", isto porque tinha sido capitão no exército. Era um homem alto e imponente, ou será que é a imagem que tenho dele, pois eu era uma criança e foi o que ficou na minha memória, tinha 75 anos. Poucos sabiam o motivo porque vivia ali, a minha mãe, que teve o privilégio de ser a sua empregada doméstica, teve esse conhecimento dito por ele, estava ali porque no passado tinha sido contra o estado-novo e agora contra o governo de Salazar, era portanto antifascista e ali encontrou de certo modo refugio para uma hipotética perseguição. Para mim isso nada significava, anos depois, quando da revolução do 25 de Abril, percebi o que o levou a ir para esse "cu de Judas". Poucos também ali sabiam que era um homem das letras.




Mas as histórias que surgem na mente são aquelas associadas ao seu comportamento como vizinho, essas sim são inesquecíveis.
Tinha em frente da sua moradia um jardim, não era propriamente um jardim, era mais uma rede que vedava a outra quinta, também ela agropecuária, entre as duas passava um caminho que permitia o acesso à segunda. A rede encontrava-se envolvida por trepadeiras e na sua base, o "Senhor capitão", tinha plantado algumas flores, nas tardes de Verão, da janela, com uma mangueira apontada às flores regava-as e em simultâneo dava-nos banho, a mim, ao meu irmão e a todos os "putos" que ali moravam, todos de cuecas a correr e a saltar debaixo da água que jorrava da mangueira. Dias havia que o "Senhor capitão" vinha à rua, em volta dele parecíamos um enxame, ia connosco dar um passeio para o lado de fora do "condomínio", para um espaço lindo, ao qual chamávamos "a nossa praia", isto porque o local era constituído por uma areia muito fina, sendo uma parte quase como um pântano, não sei bem se era isso, a imagem que tenho é de uma superfície húmida, onde havia juncos, e coaxavam rãs e sapos.



As recordações mais marcantes que tenho dele remontam aos almoços de Domingo na sua casa, tinha por hábito convidar as crianças para almoçar com ele, o convite era limitado a duas crianças, um menino e uma menina. Quando era a minha vez almoçava sempre com um amigo, já falecido, o Carlos, mais conhecido por "Mira", o ultimo apelido, para nós era uma festa, a sopa era tão boa, mais tarde, anos depois, soube qual o ingrediente mágico, o "Aji-no-moto", o segundo prato que na nossa casa era raro comer, carne assada, e outras delícias tais, como a sobremesa, que também nas nossas casa só havia pelas festas, mas, há sempre um mas, a verdadeira recordação, talvez se possa chamar "trauma", mas que ficou ultrapassado, era a salada de tomate, que nós detestávamos, então para não a comer eu o o meu amigo inventamos uma estratégia, um tirava o tomate e passava-o ao que ficava mais perto da casa-de-banho, este fechava-o na mão e pedia licença para lá ir, isto repetiu-se durante alguns Domingos, talvez já se tivesse apercebido, íamos tantas vezes lá, mas um Domingo não permitiu e pediu para colocar o que tinha na mão no prato, ora era um pedaço de tomate, deu apenas uma ordem, nenhum se levantava da mesa sem comer a salada, foi remédio santo, comecei a gostar de salada de tomate e o meu amigo também.



Outras recordações vão surgindo, nas tardes de Domingo éramos todos convidados para ver televisão, há pois! Televisão era um objecto quase desconhecido para a maioria de nós, com a agravante de ser muito cara, sendo apenas usufruída pelos que o podiam comprar, o que não era o caso dos nossos pais. Na sala funcionava uma hierarquia, à qual não permitia o mínimo deslize, as crianças mais pequenas, tanto rapazes como raparigas, onde eu me incluía, ficavam sentadas no chão em frente dele, seguiam-se as raparigas mais velhas que se sentavam em cadeiras ao seu lado, por trás dele ficavam os rapazes mais velhos de pé, a televisão ocupava o espaço em frente deste esquema, ficando ele no centro sentado numa cadeira de baloiço. Foi nesta televisão que vi os primeiros filmes de " índios e cowboys" e comecei a apreciar o Professor José Hermano Saraiva a narrar os grandes factos da nossa História, as nossas lendas e tradições.
Recordo-me de o ver a conversar com a minha mãe, também me recordo da minha mãe comentar em casa que o "senhor capitão" lhe tinha pedido para não mexer nos seus papéis, os seus manuscritos e documentos, ali era ele que fazia a limpeza, dizia à minha mãe que era perigoso ela saber alguma coisa que ele escrevia, mas sempre lhe ia dizendo que escrevia livros e poemas.


Tinha eu nove anos quando o "senhor capitão" faleceu, desse acontecimento tenho uma imagem muito pálida, recordo-me da sua nora, a actriz Lurdes Norberto, lá ir e dar autorização à minha mãe para ficar com o que quisesse lá de casa, incluía loiças, roupas de cama e mesa, e até alguns móveis, infelizmente nenhuma das suas obras.
Os anos decorreram sempre a pensar de um dia procurar conhecer as suas obras, mas por diversos motivos, que nem sempre são os mais desculpáveis, nunca o fiz. Agora com a Internet já consegui dedicar um pouco de tempo a pesquisar, tendo a grata satisfação de conhecer um pouco mais da pessoa maravilhosa que fez parte da minha infância. Estou ansiosa para procurar pelas suas obras nas livrarias e quando for possível deslocar-me à BN onde estão todas elas, entregue pelo filho.

sábado, 7 de novembro de 2009

Até um dia


No porto das ilusões
tenho um cais
onde voltaste a acostar.
Frágil batel
refugiado da tempestade
seguro por delicada amarra.
Quando amaina
a ânsia, o desassossego
soltar a amarra, queres partir.
O frágil batel é veleiro de aventura.
O cais torna-se pequeno
para tal envergadura.
Não há despedida, não há tempo.
Até um dia! Até um dia!
Mas um dia, se voltares, talvez
o cais já não exista
ou tenha um letreiro que diz:
"Proibido acostar".


domingo, 1 de novembro de 2009

Lapso

Respondendo a um comentário que me enviaram, tenho, sem margem para dúvidas, de admitir que neste blog onde "faço" literatura (convencida, não sou?) e falo de autores, cometi um lapso, esqueci-me, é imperdoável, de fazer referência a um dos maiores vulto da literatura lusa, Camões, Luís Vaz de Camões. Se foi lido por "obrigação" há uns anos atrás, principalmente os "Lusíadas", não deixou no entanto de ser gratificante a sua leitura, pese embora a complexidade da obra. Camões continua até aos dias de hoje a fazer-nos sentir orgulhosos do país onde nascemos, " esta é a ditosa Pátria minha amada", a cujo povo valeroso "o mar se curva e a terra aclama" e pelo qual os deuses no Olimpo continuam a reunir-se em "Concílio" a fim do auxiliar.
Mas este poeta não nos enriqueceu apenas com a sua obra épica, também como poeta lírico deixou obras maravilhosas, onde expressa os sentimentos e as emoções que a sua vida de homem aventureiro, galante e apaixonado estava repleta. A forma como canta o amor é sublime: "Amor é fogo que arde e não se vê, é ferida que dói e não se sente..." .
Amar assim é a forma mais sofredora, porque não se ama alguém incondicionalmente, queremos sempre a retribuição, mais, exigimos que o outro seja a "alma gémea", o que é pouco provável acontecer.
E mais doloroso é amar quando o amor é platónico, embora sabendo que só um amor assim é eterno, não nos oferece a plenitude, a que se atinge na entrega.
Todo este texto foi apenas expressar sentimentos pelas palavras. Quero confirmar que estou de acordo com as palavras do poeta expressas no comentário, que possa haver mudança, de preferência para mudar o que está mal, mudar para melhor, assim a mudança é sempre bem vinda. Mais não acrescentei ao que sempre foi dito sobre Camões, é apenas uma opinião sem importância.