Por vezes sinto necessidade de me isolar, de ficar só, de ir até ao "deserto" para me encontrar, reconhecer-me, e analisar-me, pois disso depende o meu equilíbrio psíquico, algo que eu acho que todos deveríamos de fazer, ainda que hajam muitos que para não se terem de confrontar consigo mesmo procurem estar sempre rodeados de gente. A solidão nesta perspectiva é assustadora, fogem dela a "sete pés", quando ela os obriga a analisarem-se.
A solidão não tem para mim o sentido cognitivo que pretensamente lhe é dado, também é verdade que não a desejo permanentemente, mas como alguém um dia disse: "a solidão deveria ser como beber café: em poucas quantidades e poucas vezes" (com intervalos). É assim que eu bebo café, é assim que eu gosto da solidão. Voltando a falar de nos conhecermos a nós mesmo, já Sócrates dizia: "Conhece-te a ti mesmo", estou plenamente convicta da citação, para mim é o melhor método para conhecermos os outros, actuando como um freio para não os criticarmos tão levianamente e concluirmos que afinal somos todos feitos do mesmo barro, pelo menos a grande maioria, claro que há excepções, aqueles que nos fazem envergonhar de pertencer à raça humana, aqueles que por qualquer desígnio maléfico estão espalhados entre nós.
Comecei a divagar, isto era só para dizer que busco muitas vezes nos livros soluções para as minhas dúvidas, para a minha insegurança e principalmente para a minha ignorância, pois é : "Só sei que nada sei". Um meio a que recorro para me isolar é lendo, nos livros consigo entrar num mundo paralelo àquele do qual faço parte, por momentos não estou lá e existem livros que têm esse mérito.
Faço referência a um deles, que depois de o ler me elucidou ainda mais sobra a minha personalidade: " As Deusas em cada mulher", de Jean Shinoda Bolen, tenho recomendado a sua leitura às amigas, mas também seria gratificante que os homens se interessassem pela sua leitura, iriam conhecer melhor as mulheres, (e bem precisam, ai! ai! coitados!). Depois de o ler conclui que sou uma Perséfone (Gregos) ou Proserpina (Romanos), uma das deusas menos conhecida do Olimpo, uma deusa receptiva, introvertida (mas não muito), sensitiva, intuitiva, apreciadora da imaginação, e psíquica. Isto são alguns traços da minha personalidade, como Perséfone já fui "raptada", já desci ao "inferno", não tive foi um Hermes, (Gregos) ou Mercúrio, (Romanos) para me trazer de volta, tive que regressar sozinha, já senti sofrimento e tristeza imensos, (quase a desistir da vida). Mas tal como ela consegui ultrapassar essa fase com a ajuda de Hécate (deusa das encruzilhadas) e procurar o meu caminho, reunindo em mim todas as deusas, dai a complexidade da minha personalidade, Ah! Ah! Ah! Nem imaginam, nem queiram saber, é demasiado exigente essa analise, deixo muita gente confusa. Reúno em mim quase todas as deusas, pelo facto de me sentir "na pele" de quase todas, parecendo um paradoxo, actualmente convivem muito bem umas com as outras, (às vezes andam um pouco de costas viradas umas para as outras, mas é por pouco tempo), nem imaginam a "trabalhera" que deu, para se entenderem, para estarem todas no mesmo nível, nenhuma é superior à outra. Quando digo que reúno em mim quase todas as deusas, não estou a ter um complexo de superioridade, dá essa impressão, mas não é verdade, até sou moderadamente modesta. Sinto-me Deméter, (Gregos) ou Ceres (Romanos) a mãe, (sem ser possessiva), Hera, (Gregos) ou Juno (Romanos) a esposa, (sem ser ciumenta), e Afrodite, (Gregos) ou Vénus (Romanos) a amante, (sem ser promiscua). Diariamente esses arquétipos são solicitados a mostrarem-se e a manifestarem-se, embora numa escala mais reduzida, pois no Olimpo é sempre no Olimpo, (os deuses até podem estar loucos). Por vezes, quando são solicitadas, há outras deusas que se tornam presentes: Artemis, (Gregos) ou Diana (Romanos), há sempre um tempo para ser "caçadora", há pois é! Por vezes tenho de mostrar que sou livre, (já me libertei dos domínios, sou dona de mim), embora tenha criado laços. Também Atenas, (Gregos) ou Minerva, (Romanos) surge, esta mais vezes, o saber é para mim fundamental.
Vou terminar, comecei por mencionar o isolamento, pois foi numa fase de isolamento, que este livro foi adquirido, permitindo assim fazer a tal introversão e dai resultar um conhecimento mais aprofundado de mim. Há livros que vêm às nossas mãos no momento mais oportuno, este foi um deles. Bem-haja a sua existência.
A Dra. Jean Shinoda Bolen é médica psiquiatra, analista jungiana, professora de psiquiatra na Universidade da Califórnia - São Francisco.
Nota: análise jungiana - análise segundo Jung