Translate

domingo, 5 de dezembro de 2010

Onde é que perdemos a felicidade?

"Um homem santo na Índia que se dedicava à meditação e ensinava por poucas palavras, estava um dia no seu quintal, de varinha em punho, à procura de algo por entre ervas e flores.
Como a busca já durava há algum tempo, as pessoas que passavam interrogavam-se: "Que terá ele perdido? Algum tesouro?" e foi-se formando uma curiosa multidão. Cansados de esperar, houve alguém que perguntou: " Que procuras, ancião? Será que te podemos ajudar?" ao que o sábio replicou: "É cá comigo. Ide às vossas vidas." A resposta do ancião aguçou mais ainda a curiosidade das gentes que insistiram: "Se nos dissesses do que se trata, nós poderíamos ajudar-te."
"Está bem . Se querem eu aceito. Estava a coser e perdi a minha agulha."
Logo todos começaram a procurar a agulha, revolvendo a terra, virando as pedras, remexendo por entre as flores. Mas de agulha, nada. Ao fim de muito tempo de buscas em vão, houve um que replicou: "Diz-nos onde estavas exactamente a coser, pois assim será mais fácil descobrir a tua agulha."
"Lá dentro no quarto!" foi a resposta do ancião, e todos olharam para ele espantados.
"Então porque a procuras cá fora?" perguntou outro.
"Porque lá dentro está escuro e cá fora, no jardim, há luz." Aí todos pensaram que o ancião estava louco e começaram a dispersar, indo-se embora.
O ancião disse então: "Pensam que estou louco, não é? Mas é o que todos vocês fazem. Onde é que perderam a felicidade? Dentro de vós. Então porque teimam em procurá-la fora?"


Este conto indiano poderia ter variantes do género: " Onde é que perdemos a paz?"

Também a paz terá de se iniciar no interior de cada um.

"Assim, aquele que conhece a paz interior não quebra com o fracasso nem se embriaga com o sucesso. Sabe viver essas experiências no contexto de uma serenidade profunda e lata, compreendendo que são efémeras e que não há razão para se prender a elas."

Matthieu Ricard (2005), monge e intérprete do Dalai-Lama, ex.investigador da área de biotecnologia

O último texto faz parte da revista CAIS de julho de 2010, da Associação CAIS.

1 comentário: