Fazendo uma triagem às minhas memórias materiais, descobri um conto que escrevi há uns anos.
Foi pedido aos pais das crianças que frequentavam o infantário (sala dos Peixes) que escrevessem um conto para ser contado às crianças que frequentavam a escola, e posteriormente às gerações vindouras que a frequentariam.
O pequeno jipe
Num quartel de bombeiros onde havia muitos carros, auto-tanques, jipes grandes e ambulâncias, havia um jipe pequenino, todo vermelho, com letras muito brancas. Estava sempre ali parado, muito quieto. Quase todos os dias era lavado e polido por um bombeiro, mas ele nunca saia dali, não entendia para que servia toda aquela atenção.
Todos os dias, era constantemente, todos os outros carros andavam num corrupio, entravam e saiam, sempre com pressa, umas vezes eram os auto-tanques e os jipes grandes cheios de bombeiros para apagarem os fogos, outra vezes eram as ambulâncias para levarem as pessoas aos hospitais.
O pequeno jipe não compreendia porque não saia ele também, quando via os outros saírem sentia-se muito triste, e dos seus olhos redondos, muito grandes e brilhantes, rolavam lágrimas.
Mas um dia, que ele sentiu ser especial, o coração dizia-lhe que sim, foi lavado e polido ainda com mais cuidado. Ficou tonto de alegria, apetecia-lhe sair dali em louca correria, mas conteve-se e esperou.
Reparou nos bombeiros com as fardas de gala muito engomadas, os galões muito brilhantes, a juntarem-se como se fossem desfilar, marchar. Era isso mesmo, o quartel fazia anos, estavam a festejar.
Chegou o comandante, muito elegante na sua farda de gala, e sabem para onde ele se dirigiu? Isso mesmo para o pequeno jipe, entrou também o motorista. Então a fanfarra e o corpo de bombeiros saíram para a rua para o povo ver, na frente todo inchado de orgulho o pequeno jipe abria o desfile.
Afinal não era um inútil como chegou a pensar, também tinha uma missão a cumprir, por sinal com muita vaidade.
O conto terminou, mas acrescentei uma mensagem para todas as crianças que frequentavam aquele espaço, inclusive o meu filho.
Também todos vocês, meninos e meninas da "Sala dos Peixes" terão um dia uma missão a cumprir, que a façam o melhor que vos for possível, tendo como alicerces os valores que vos começaram a transmitir nessa escola, e que funciona como a vossa segunda casa.
Um grande abraço envolvendo todos vocês, educadoras, auxiliares e dirigente. Um bem-haja. Muito obrigada.
Este conto foi inspirado quando exercia uma actividade profissional num quartel de bombeiros, tinha verdadeiros fascínio pelo movimento que ali se desenrolava. Trabalhava numa secretaria, mas secretamente desejava ser bombeira, infelizmente nunca fiz nada para que esse desejo se tornasse realidade.
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