Eramos três casais, cujo relacionamento se devia ao facto de os membros masculinos serem os melhores amigos no local de trabalho, o que levou, mais tarde, à apresentação das companheiras, criando-se assim laços de amizade entre elas.
Tínhamos por hábito, de vez em quando, juntar-nos para um passeio, que nos levava a fazer roteiros gastronómicos e culturais, e até umas noitadas, até de madrugada, numa discoteca, isto nos fantásticos anos 70/80.
Um dos casais era extremamente conflituoso, praticamente estavam sempre em "guerra", era raro que não se envolvessem em acesas discussões por motivos alheios aos restantes que os consideravam completamente absurdos.
Por vezes estávamos na mesa de um restaurante e começavam a fazer comentários sobre os respectivos comportamentos e características pessoais bastante desagradáveis, os outros ficavam apreensivos e tentavam apaziguar o ambiente, por vezes já não iam a tempo, e os comentários passavam a insultos mas estranhamente no início eram até bastante discretos, tudo o que diziam eram sempre sem elevar o tom de voz, sempre comedidos e, para cúmulo, com um sorriso nos lábios.
Quando se encontravam no local de trabalho, os homens falavam sobre esse comportamento e o colega respondia-lhe que não conseguiam controlar-se, em casa até andavam aos estalos, os colegas aconselhavam-no a tentarem controlarem-se, porque realmente tinham comportamento antissocial deixando os outros constrangidos pelo olhar acusador do restante público, e ainda pela vergonha de serem convidados a sair do restaurante, bar ou discoteca. Também pensaram em o deixar fora dos programas mas iam dando sempre mais uma oportunidade, poderia não voltar a acontecer.
E voltou a acontecer, e ainda mais violento, passou a agressão física, na última vez, sim foi a última vez que foram convidados, desencadearam um verdadeiro "cenário de guerra", o confronto passou dos insultos à agressão física, as bofetadas "choviam" nas faces de ambos, e para terminar ela fincou-lhe os dentes num braço levando-o a gritar de dor e ele a pregar-lhe um brutal soco que a mandou ao chão, o gerente do restaurante veio ao local e expulsou-os de lá ameaçando-os com a GNR, e nós fomos "gentilmente" convidados a sair. Eram a prova real de que: "Os Homens são de Marte e as Mulheres são de Vénus". Não se entendem mesmo.
Durante uns tempos os programas ficaram suspensos, o casal chegou a um acordo e divorciaram-se, ele no local de trabalho entrava mudo e saía calado, os colegas tentavam saber o que se passava com ele mas ignorava-os, o que os deixava deveras curiosos a dar palpites. Nós, os outros casais, voltamos a sair juntos, e ele foi convidado, sozinho claro, e foi aí que ficamos a saber que depois de se divorciarem continuavam a encontrarem-se, não podiam viver um sem o outro, claro que nós mulheres estávamos "mortas" de curiosidade, as mulheres são assim, temos de saber tudo ao pormenor, e ele ia sendo "levado" pelo "feitiço" com que era envolvido, dizia que não conseguiam viver um sem o outro, mais explicitamente sem foder, não era para terem sexo, o sexo é uma palavra ambígua, sem conteúdo, para eles era foder mesmo, não partilhavam mais nada, em tudo estavam em desacordo, só mesmo a foder completavam-se, eram autênticas "almas gémeas". Nós, mulheres, estávamos deliciadas pela franqueza, como sem pudor expunha algo tão intimo, enquanto os homens, talvez pela nossa presença, se sentiam constrangidos, acanhados , tentando mudar o tema de conversa, pois não eram conversas para se ter com as esposas dos outros, eram conversas de machos.
Marcavam encontro num bom restaurante, pois também era importante satisfazer esse apetite, e acabavam a noite num quarto de hotel. Enquanto durou a relação de amizade, entretanto a vida levou-nos a todos por outros caminhos, sabíamos que a relação se mantinha e funcionava muito bem, desde que continuasse "mesa e cama", o amor para eles era válido só desta forma, só assim se demonstrava. É caso para dizer que: "O amor é fodido", ou como dizia Lord Byron que o melhor da vida é: "Comer, beber e amar." que nós literalmente abandalhamos para: "Comer beber e foder".
Nota: "Os Homens são de Marte e as Mulheres são de Vénus" de John Gray
" O Amor é fodido" de Miguel Esteves Cardoso
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