Num texto anterior escrevi que preciso de evadir-me, acontece por vezes não ser fácil fazê-lo fisicamente, há diversos condicionalismos, na maioria das vezes essa evasão é feita através da leitura, pego num livro e parto para outras paragens mas aquele apelo ao movimento, à acção está sempre latente.
Acontece que o filho ainda não me tinha presenteado pelos meus anos, e dois dias depois, mais exactamente no passado sábado presenteia-me com uma surpresa, aquelas que são mesmo "a minha cara".
Sem ter o mínimo conhecimento para onde me iria levar, visto ser surpresa, adorei levar-me a almoçar à cantina do templo hindu em Lisboa, comida vegetariana, simples mas muito gostosa.
Depois estrada fora, e começo a dar atenção às placas, Sintra, aquele local mágico, o que lhe tira uma certa magia são tantos turistas que invadem tudo mas é bom para a economia. Conheço muito bem Sintra, também como turista mas com a vantagem de fazer por lá muitas caminhadas por locais inacessíveis a qualquer tipo de transporte, apenas a ligeireza das pernas, e por vezes reflexos rápidos para usar as mãos. Ontem foi diferente, fomos percorrer a Quinta da Regaleira e o seu palácio, o único local em Sintra que ainda desconhecia, ainda não tinha surgido essa oportunidade, e sinceramente é aquele local mágico por excelência, não vou aqui contar a "história", na Internet encontram, e ficam a saber que tem na arquitectura e no planeamento dos jardins ligação ao esoterismo, mas estar lá de "corpo e alma" é sem dúvida outra sensação que nenhum meio tecnológico proporciona.
Não sei se é pelo clima, a Primavera acabou de chegar e ainda está muito instável, só sei que dou por mim a sentir que só estou bem onde não estou, quando começo a desejar ardentemente partir para algum lugar, é sinal que não estou bem, esclareço que não estou infeliz, estou talvez "baralhada" das ideias.
Aparentemente parece uma tentativa de fuga à rotina, ao cansaço, à monotonia que por mais que não queira vêem-se insinuando faz tempo. Mas desta vez a fuga não é pelos factos acima descritos, ainda que continue a necessitar dessas fugas por eles mesmos, desta vez são causas melindrosas, quando se tornam conflitos internos provocados por atitudes erróneas, apesar do assunto já se ter esclarecido, tenho sérias dúvidas se fui completamente absolvida, ainda que tivesse a meu favor o facto da minha atitude não ter sido intencional. Só quinze dias depois a amiga decidiu falar comigo, e perante os meus argumentos cedeu, e a amizade continua sólida.
A mágoa é que ainda está por cá, agora tenho de recorrer a todos os meus meios de defesa para a erradicar, porque se não o fizer irá fazer-me muito mal. Se a amiga tivesse sido franca inicialmente, a amizade permite isso, nunca se teriam instalado esta dúvida e este mal estar.
Por vezes o silêncio não é aconselhável, ainda que eu seja grande apologista dele, certas situações requerem mesmo o uso da palavra, a falar é que a gente se entende.
João Tordo é neste momento o autor contemporâneo da minha eleição. Cheguei hoje ao fim desta obra: "O Ano Sabático"
Li também "Anatomia dos Mártires". Fiquei fã deste autor, e vou ler todas as suas obras.
Há uns dias que estou a tentar digerir uma situação ou acontecimento, que na verdade não faço ideia qual seja, vou tentar explicar: uma amiga, amiga mesmo, de longa data, simplesmente decidiu distanciar-se, ou deixar de manter contacto comigo, durante dias não atendeu o telefone fixo, o telemóvel, não respondia às mensagens, até que movida pela boa fé de que se encontrava deprimida, devido ao facto da irmã estar a confrontar-se com uma doença, decidi ir pessoalmente procurá-la, naturalmente achei que não estava bem, como é uma pessoa reservada, daquelas de interiorizar o sofrimento, não estranhei um certo alheamento, e a parcimónia nas palavras, concluindo que não estava bem psicologicamente despedi-me desejando que tudo corresse pelo melhor. Depois tentei novamente contactá-la, e voltei a ligar para o fixo, para o telemóvel, e a enviar mensagem, não atendeu nem o fixo, nem o telemóvel mas respondeu à mensagem, na qual lhe pedia para me dizer o motivo para não atender, e que tinha a sensação que não queria falar comigo, muito fria e secamente respondeu por mensagem: depois falavamos.
Perante esta resposta fiquei sem saber quando é que falariamos, se em breve, se a médio, se a longo prazo, já se passaram praticamente oito dias e nem à merda me manda. Será que tive algum comportamento que a levasse a distanciar-se de mim, tenho acompanhado a delicada situação de saúde da irmã prestando o meu apoio quando solicitado, não consigo encontrar, por mais que me esforce, motivos para este afastamento, se se eventualmente os tiver creio que não deveria ser julgada e condenada sem ter oportunidade de me defender.
Quando uma amizade se prolonga no tempo como a nossa, onde fomos cúmplices, companheiras e confidentes, onde tanto foi partilhado não é justo que tudo acabe assim, com o silêncio que se instalou, sem haver oportunidade de esclarecer o que de antemão julgo ser algum mal entendido, tenho sã consciência que nada fiz ou disse de errado, por isso tentar contactá-la, mas agora neste momento penso que já não o farei, o meu orgulho não permite, será ela, caso o queira fazer, a contactar-me e a esclarecer-me.
Infelizmente, lamentavelmente, é pela falta de transpârencia nas relações que acontecem estas situações, e também pela falta de coragem para falar sobre o motivo que levou à situação, é muito mais fácil remetermo-nos ao silêncio, mas que fica uma grande mágoa isso fica.