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sábado, 19 de setembro de 2009

Sonho concretizado







































Fiz há uma semana as férias que sempre sonhei. Pessoalmente tinha muitas reservas no tocante à concretização dos sonhos, os meus nunca se tornaram realidade, porque seria? Talvez porque "atrás das grades da vida insistia em ver a lama do chão e esquecia-me de olhar as estrelas no firmamento". Isto foi o que fiz ao longo da minha vida, metafóricamente falando. Esta viagem deu-me a oportunidade de me libertar, quase por magia, de valores poeirentos, bafientos e principalmente azedos e amargos, que me iam envenenando muito lentamente, que me levava à cegueira não permitido ver o que de bom tem a minha vida. Porquê não tornar reais as palavras de Helen Keller: "Porquê contentar-nos em viver colados ao chão, quando sentimos dentro de nós a ânsia e a vontade de voar".
Esta viagem por mar, ao qual eu tenho uma ligação muito especial, sou em astrologia do signo Peixes, num cruzeiro, levou-me a partir de Lisboa, a Gibraltar, Marrocos, (Casablanca, Agadir), Lanzarote, e Funchal. Foram oito magníficos dias a bordo de um magnifico navio, o "Pacific Dream", o nome não poderia ser outro, foi mesmo de sonho. Gibraltar é mesmo "british", mas a diversidade de povos que circulam pelas ruas dá-lhe um certo exotismo. Casablanca desiludiu-me um pouco, talvez porque a via envolvida pela aura romântica do imortal filme com o mesmo nome, enfim não foi mau de todo, ver a mesquita de Hassam II compensou os outros aspectos um pouco menos belos. Os "Bazares" são de perder a cabeça, só apetece comprar, "mergulhar" naquele ambiente saturado de cheiros intensos, perfumes, especiarias e peles, nos sons que nos provocam aturdimento, e nos leva para as "arábias".

Agadir é uma cidade dinâmica, muito ocidental, é geminada com a nossa cidade de Olhão no Algarve. Um jardim tem mesmo o nome de "Jardim de Olhão", e onde está instalada uma biblioteca com o mesmo nome. A Mesquita é lindíssima, as oficinas onde os artesãos trabalham à nossa frente nos mais variados artefactos deixam-nos maravilhados, o único senão é realmente a dificuldade de escolha, nem é que sejam caros, nós é que não temos "dirham" ou euros, que são aceites. Aqui tive oportunidade de me expressar em francês, com cinco anos de aprendizagem à "beaucoup de temps", até pensei que não sabia articular uma frase, mas "je parle un peau, trés mal, mais je parle français, n'est-ce pas, óh! lá, lá". Incrível! conseguia entender-me muito bem com os taxistas, que, "sont beaucoup sympathiques".
Lanzarote, aqui pensei que seria agradável encontrar o José e a Pilar, mas não passou de uma fantasia e a visita que tínhamos para fazer era apelativa, ao finalizar posso dizer que foi gratificante.
No Funchal fiquei deslumbrada pela vegetação, dai o adjectivo " A Madeira é um jardim", até o presidente lhe faz justiça no apelido que usa. Foi uma visita que me proporcionou imagens belíssimas para recordar.
A bordo, um serviço de cinco estrelas, de todo o pessoal, de toda a tripulação desde o comandante ao mais humilde servidor, todos aqueles com quem tive o privilégio de contactar, todos merecem o meu mais sincero agradecimento, pelos serviços prestados, pela amabilidade e simpatia. Já agora, a bordo era mesmo um delírio, espectáculos deslumbrantes, "show exótico", "dança do ventre", musicais de jazz, etc, num magnifico salão; discoteca; bares; ginásio; jacuzzis; piscinas; biblioteca; casino; salas de jogos; cabeleireiro; spa. Ao ar livre no "deck" onde se situam piscinas, "jacuzzis" e bares, havia diariamente diversas actividades, jogos, festas com motes, como por exemplo: festa tropical, feira familiar, etc.

Cheguei ao fim da minha viagem, heis-me novamente a colocar os pés no mesmo cais de onde parti, Lisboa, muito ficou por dizer, mas será mais uma estrela que guardarei, para, quando o meu mundo escurece,cintilar com mais intensidade, e me fazer lembrar que amanhã o sol voltará a brilhar e dissipará a escuridão.






















































































quinta-feira, 17 de setembro de 2009

"No Teu Deserto"

"No Teu Deserto" livro de Miguel Sousa Tavares, que terminei de ler. Atravessou um deserto, atravessou-o fisicamente, foi em trabalho, mas tornou-se aventura, e foi muito mais além do que estava preparado. Como ele próprio o classifica, este livro é "quase romance".
Não teço mais comentários, nem descrevo coisa alguma, assim a quem eventualmente aceder ao meu blog, aconselho a ler como decorre esta aventura e o seu desfecho.
Pegando no título, em jeito de desabafo, de confidência, também em nós fica um grande deserto, depois de alguém que faz parte da nossa vida, por um curto espaço de tempo e por fugazes momentos faz-nos sentir que a vida é maravilhosa, parte, não morrendo necessariamente, deixando um grande vazio que nos passa a habitar, onde se morre à míngua de tanto esperar absurdamente por algo, nem que seja uma miragem.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Filosofando

Esperava pelo autocarro que me traria de regresso a casa, no Terminal Rodoviário. Foi a meio da tarde, o Verão estava quase a chegar. Muito próximas de mim duas jovens universitárias conversavam, em voz baixa mas não o suficiente que me impedisse de ouvir, falavam sobre um valor que é sem dúvida inquestionável, mas também o será como facto? Falavam na liberdade, na liberdade de agir, de ser responsável pelas as suas acções, de, em suma, serem "donas do seu nariz".
Uma muito liberal, muito atrevida, exuberante, dizia que estava desejosa que as férias começassem, que ia participar de um encontro de BTT, e pelo entusiasmo com que falava era fanática de tal desporto, depois ia quinze dias de férias com o namorado para um parque de campismo, ele infelizmente só tinha quinze dias de férias, iam "curtir à brava", praia, bares, discotecas, dançar até de madrugada e outras "curtes" que eu omito.
A outra, mais apagada, até um pouco triste, dizia que as férias para ela iriam ser uma "seca", ia com os pais para o Algarve para a casa de férias que tinham em Portimão, já sabia que era só praia com a família, grandes jantares, tinha que levar com toda a família, tios, primos e até a avó paterna, pois era hábito juntarem-se sempre nas férias. A única coisa que tinha interesse era um primo, era "cá um pedaço", mas nem pensar em "curtir" com ele, tinha namorada.

A primeira argumentava que era parva se não tentasse, pois se a namorada nem lá estava só tinha era de se "mandar a ele", com certeza que oportunidades não faltariam para "curtirem", ela era gira, e ele passava "fome". Novamente a segunda fazia referência à família, que era impensável, ainda que vontade não lhe faltasse, por uma questão de princípios transmitidos pela educação não tomaria tal atitude.
Durante o percurso tive tempo para reflectir sobre o tema em questão: a liberdade, concluindo que afinal não somos tão livres como pretensamente julgamos. Analisando esta conversa: uma jovem, pela educação, ou pelo facto de ser rebelde e aventureira não tinha, aparentemente, nenhum tipo de determinismo que a impedissem de ir gozar as férias como as idealizou. Para a segunda a educação recebida era um factor condicionante, ainda que no seu intimo gostasse de fazer o mesmo que a amiga, era prisioneira do padrão sociocultural onde se inseria, provavelmente nunca seria capaz de tais liberdades.


"A Liberdade é um conjunto de pequenas restrições ".
Peter Hille